domingo, 16 de agosto de 2009

Perspectivas Econômicas - As Américas - FMI / Junho de 2009 - Parte Final

Após uma revisão concisa sobre os Estados Unidos e Canadá, segue abaixo a segunda e última parte da análise, desta vez, relativa à América Latina. Como informado na parte I, você pode fazer o download o arquivo na íntegra diretamente do site do FMI. São 104 páginas recheadas de previsões, gráficos e cenários econométricos. Iniciemos.

Perspectivas para América Latina

Os choques externos estão pressionando a região duplamente, tanto pelo lado das contas de capital, como também pela conta corrente da balança de pagamentos. Entre os canais de propagação, destacam-se: I) condições mais restritivas de crédito; II) redução das exportações da região; iii) forte desvalorização dos preços das matérias-primas e iv) redução das remessas e do turismo.

Avaliando ponto a ponto, encetamos pelas condições financeiras (de crédito) externas mais restritivas. De certa forma, desde meados de 2007, por causa das hipotecas, o mercado desenvolvido já vinha sofrendo oscilações no preço dos seus ativos. Após novembro de 2008, os efeitos da balbúrdia norte-americana (compartilhada e sustentada pelos europeus, em especial) já se tornavam sistêmicos, incorrendo em desestabilização nos países latino-americanos, isto posto, desvalorização no mercado acionário, aumento dos spreads sobre títulos da dívida desses países, redução do IED.

Em segundo lugar, ocorreu e ainda ocorre uma “freiada” na demanda por exportações. Este canal tem sido menos importante em termos gerais no contágio, tendo em vista que a participação da América Latina no comércio internacional como porcentagem total é pífia, sendo que o maior afetado foi o Brasil, o mais “influente”, participante dos BRICs, pela diversificação existente na tua cesta de tradables.

O terceiro aspecto, a queda brusca e tonitruante nos valores das matérias-primas e commodities, foi fator de pânico para a maioria dos países da América do Sul (Brasil, Argentina, Venezuela, Chile, etc) já que dentre seus principais produtos exportados estão hidrocarbonetos, metais brutos e cereais, sendo que de suas receitas é formado o grosso das reservas internacionais e mantido o equilíbrio das contas externas em superávit. Em contrapartida, grosso modo, os países formadores da América Central, majoritariamente importadores, acabaram sendo favorecidos. Infelizmente, em pequena medida.

O quarto ponto, que se refere às remessas e ao turismo, apresenta um panorama negativo, sabido que com a redução da atividade econômica nos países ricos, a mão-de-obra imigrante, preferencialmente localizada na construção civil, perde o emprego e, por conseguinte, pouco tem a remeter a seus países de origem. Em alguns casos, pelo menos temporariamente, como na Colômbia e no México, os efeitos de tal conjuntura foram dirimidos e até subvertidos pelo fato da desvalorização cambial que manteve o valor em dólares das remessas. Não esqueçamos, porém, que as remessas constituem uma parte relevante do PIB no que tange a países menores (como Bolívia, Colômbia e vários representantes na América Central).

Respostas de política econômica

Em contra aos aspectos negativos supracitados, verificamos uma atitude anticíclica dos governos, sem incorrer, na sua maioria (o que é importante) em política de aumento de juros dos títulos públicos como forma de atração de capitais. Vejamos.

  1. Provisão de Liquidez: visto que havia risco de crise financeira sistêmica, inclusive, nos sistemas bancários dos países latino-americanos (mesmo que em menor grau aqui no Brasil), os países, na grande maioria, adotaram medidas que garantiam a estabilidade monetária, pelos canais de:

I) Injeção de capitais no mercado (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica,Guatemala, México e Peru);

II) Janela do redesconto* (Brasil, Costa Rica e México);

III) Diminuição dos requerimentos de segurança de bancos para com o Banco Central (Argentina, Brasil, Colômbia, República Dominicana, Honduras, Paraguai e Peru);

IV) Apoio à refinanciação das dívidas das empresas (em dólares) via uso das reservas internacionais (Brasil) e, não menos importante,

V) Acesso a swaps providos pelo FED (México)

  1. Afrouxamento da Política Monetária: praticamente todos os países aplicaram medidas de redução das taxas básicas de juros, de forma a, teoricamente ao menos, fortalecer a atividade econômica e diminuir o peso da dívida pública sobre o orçamento. Uma das exceções foi a Jamaica, que descuidou muito no que tange à relação dívida / PIB, acabando por despertar um surto inflacionário.
A guisa de conclusão saliento que todos os relatórios do FMI são interessantes, onde se pode retirar informações estatísticas e econométricas valiosas. Qualquer dúvida, sintam-se à vontade para questionar e sugerir temas para os próximos tópicos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bela análise.

Apesar dos efeitos negativos mostrados, fico feliz que a resposta não seja o velho receituário heterodoxo.

A injeção de liquidez é uma boa medida, mas não se pode largar metas importantes como a estabilidade da moeda.

Quanto as medidas estruturantes, acho que faltou por parte das recomendações do FMI as políticas de investimentos em áreas com retorno de longo prazo.

Afinal de contas, essas medidas de caráter populistas sempre aparecem apos uma crise, reina o velho ditado de dar o peixe ao invés de ensinar o povo a pescar.


Bom , disse muita besteira, acontece que li o post pensando em outras coisas ao mesmo tempos. hahahah

Abraços