quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Barack Obama - caminhos sinuosos

O dia 20 de janeiro de 2009 registra um fato de grande magnitude na história dos Estados Unidos, pois Barack Hussein Obama, filho de um homem negro do Quênia educado em Harvard e de Ann Dunham, uma mulher branca de Wichita, Kansas, assume a presidência. Fato nunca antes registrado. É a primeira pessoa não-branca a ser eleita ao maior cargo do Executivo norte-americano.

Após ser eleito senador pelo Estado de Illinois em 2004, o partido democrata passou a prepará-lo como base para as eleições vindouras, através de uma estratégia que paulatinamente destacava as suas características positivas, como retórica e carisma, ao passo que impedia a participação dele em debates acirrados, os quais poderiam comprometer a sua imagem. Com o uso competente das ferramentas disponíveis na Internet – blogs, sites, Skype; das grandes corporações de imprensa (CNN, CBC, Reuters, MSNBC) e do fato de concorrer contra um fraquíssimo oponente, John McCain, a disputa tornou-se facilmente vencível. Enquanto isso, o único personagem qualificado do partido republicano, Ron Paul, que pelos menos conseguia argumentar razoavelmente, foi descartado.

A vitória de Obama possui um efeito restaurador no que tange à reputação dos EUA no exterior. No âmago do partido Democrata, e como uma das promessas de Obama, está a retirada das tropas do Iraque, de forma rápida e límpida. Como se pode racionalmente concluir pelo histórico da região, uma ação desse tipo beira ao impossível e não está no melhor interesse das empresas petrolíferas sedentas de lucros em meio a uma crise internacional sem precedentes.
A isso se soma o problema do Afeganistão, o qual demanda mais tropas para que uma nação dali possa se erigir em bases democráticas. Os EUA necessitam reatar suas relações diplomáticas com as nações européias mediante o uso da figura de Obama (Change-man) enquanto ela ainda está mascarada de messianismo, de forma a induzir o envio de mais tropas alemãs e inglesas para o palco de batalha. Alguém se lembra de Rambo II, quando o Talibã era aliado dos norte-americanos? Ironias do destino.

No ano passado, depois da primeira leva de injeção de capital público (US$ 302 bilhões, aproximadamente) os bancos favorecidos exibiram suas metas para corroborar a recuperação econômica no médio prazo, vejamos:

· O Citibank adquiriu um jato de luxo corporativo Dassault Falcon 7X no valor de US$ 50 milhões (recebeu US$ 45 bilhões do governo). Além disso, novamente em coro com os melhores interesses da população, o banco deseja patrocinar a construção do novo Mets Stadium, no valor de US$ 400 milhões.
· John Thain, ex-CEO da Merrill Linch, pouco antes de sua resignação em 22 de janeiro deste ano, resolveu reformar o seu escritório, gastando US$ 1,2 milhão de dólares. Para complementar, distribuiu alguns bilhões em bônus aos seus funcionários (remunerando a eficiência?). Alguns dias depois, o Bank of America, que recebeu US$ 45 bi do governo, adquiriu-o.
· O próprio Bank of America, segundo seus administradores, em uma estratégia de crescimento, patrocinou um evento chamado “The NFL Experience” (direcionado aos fãs de futebol americano, constando de atividades esportivas e recreativas em um local com mais de 850 mil m2, custando US$ 10 milhões. Não há duvida de que as crianças foram ao local para ver as opções em investimento de longo prazo ou talvez refinanciar as suas hipotecas.

Em fevereiro de 2009, houve a aprovação do pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões (destes, US$ 287 através do corte de impostos), com o objetivo de aumentar o consumo das famílias, o investimento das empresas, a confiança dos investidores e o déficit das contas públicas. Estima-se que US$ 185 bilhões serão gastos em 2009.

No setor da saúde, onde serão aplicados US$ 138 bilhões, as prioridades governamentais se localizam no fortalecimento do Medicaid, na ajuda direta aos trabalhadores desempregados quando da necessidade de assistência médica e na criação de uma central nacional de informações médicas sobre a população norte-americana, o que traria maior velocidade na execução de consultas e corte nos custos operacionais. Atualmente, a nação Estados Unidos está ranqueada como trigésima sétima em qualidade de saúde, mesmo sendo uma das que mais gastar / % PIB. Obama solicita que as pessoas tomem cuidado de si mesmas, popularmente falando, executar a técnica da medicina preventiva: sem mais gastos médicos com exames, é claro.

No dia 6 de dezembro de 2008, Barack disse que se criariam milhões de empregos através do maior investimento em infra-estrutura desde a construção do sistema federal de rodovias em 1950. Com US$ 165 bilhões destinados a esse setor, a corrida pelo acesso aos recursos pelos estados está a cada dia mais acirrada. O temor é que a vontade de gastar seja maior do que a de pensar sabiamente. No plano governamental está escrito que projetos nomeados (shovel-ready, ou no português, pá pronta) serão prioritários, dentro deles, várias novas estradas com destino ainda a ser descoberto, aos moldes do que ocorreu no Japão na década de 1990 e aqui no Brasil, no que diz respeito à Transamazônica. Vale ressaltar que a reparação de estruturas (sistemas de transportes, estradas, encanamentos) gera em torno de 9% mais empregos do que se erigir novos projetos. Talvez seja melhor nem usar a pá, mas sim o martelo.

No que tange ao cidadão, o pacote destina mais de US$ 260 bilhões em 10 anos, especialmente, através de cortes de impostos, rebates (devoluções) de valores, linhas de crédito para ensino superior e compra de casas, entre outras. O principal vaso condutor da crise foi a questão do frenesi imobiliário, onde setor público e instituições financeiras trabalharam juntos para gerar a maior bolha dos últimos tempos, sendo que os cidadãos usavam a própria casa para se alavancarem (consumirem) mais. Como pode ser visto no programa Help for Homeowners?, disponível em http://www.pbs.org/, site da televisão pública norte-americana , existem poucos resultados palpáveis em relação ao que tem sido feito no nível federal para restabelecer o mercado de mortgages (hipotecas). Muitas cidades estão totalmente desertas no momento. A prefeitura de Memphis, por exemplo, acionou bancos na justiça para cobrar os prejuízos oriundos da concessão de crédito irresponsavelmente. Indubitavelmente, a melhor solução encontra-se no fortalecimento das organizações comunitárias de crédito, amplamente banhadas de conhecimento sobre as áreas afetadas e da real capacidade de pagamento dos moradores.

A guisa de conclusão é crucial lembrar que a vitória de Obama significa não um fato messiânico, mas sim o resultado de um projeto bem organizado pelo partido Democrata. Na sua frente, diversos problemas a serem enfrentados. A necessidade de se regular os mercados e também a própria política macroeconômica do FED é urgente, para que se evitem incentivos ao comportamento desvairado, combustível para a presente crise. Agora é esperar pelos resultados do tal pacote, e que a palavra CHANGE (mudança), utilizada repetidamente por Obama, seja realmente correta para descrever o futuro que nos espera.

Um comentário:

Anônimo disse...

Para mim, nao faz menor diferença, indio, negro, japones e etc... Acho que isso é um grandes besteira, da mesma forma que acharam Lula, o pobrezinho que assume o pode, ou de Evo, o indiozinho que assume o poder.

Poder é sempre poder, independente da cor, etnia ou qualquer outro aspecto, ate mesmo religiao.

Eu espero que Obama consiga atender todas as suplicas de seu povo, afinal de contas, quando este gigante pais anda mal, todos andamos também.

Mas nao podemos depositar em ninguem grandes mudanças, ja dizia aquele velho ditado: uma andorinha so nao faz verao.

e nao esqueçamos que os EUA nao mudara em nada sua postura dominadora e imperialista, com ou sem Obama.