quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Festa so começou!

Por Ederson Vieira Grandi

Não se trata de uma questão de pessimismo. A história ainda está longe de terminar, enquanto isso a festa continua. O problema de liquidez (já afirmei em outros textos publicados neste blog) é apenas a ponta do iceberg. Existem diversos problemas que os EUA precisarão resolver após conter a corrida por liquidez. Esta contenção se dará pela demonstração, por parte do Governo, de que haverá liquidez para todos, assim a corrida tende a diminuir. Se a quebradeira for impedida, em um ano e meio a no máximo dois, a crise financeira acabará. Mas, como após toda festa, sobram as desordens para remover e coisas a arrumar, esta crise deixará seqüelas na figura da potencia chamada EUA. Nada que não cicatrize.

Porém, este país possui problemas que foram permanentemente postergados, dos quais agora não se tem como fugir. Este é uma espécie de hidra de suas cabeças. Uma destas cabeças se chama déficit público e a outra, déficit em conta corrente. Na literatura econômica, estes são conhecidos como déficits gêmeos. Alguns defendem que estes são um problema do ponto de vista da poupança nacional (a abordagem da absorção): devido ao déficit público, é necessário um déficit em conta corrente (poupança externa), para que os investimentos privados não se reduzam. Mas o problema dos déficits gêmeos reside em outros fatores.

O déficit em conta corrente passou de 6,6% do PIB, em 2007, para 5,1% este mês, correspondendo a US$ 183,1 bilhões. Com a recente desvalorização do dólar, a conta comercial apresentou uma pequena melhora, mas a rubrica deste déficit é tão grande, que poucos economistas achariam um percentual de 5% do PIB como algo sustentável. É conhecido o fato de que as contas externas são um obstáculo a um crescimento sustentado (a lei de Thirlwal).
Já o déficit público, considerando que o Governo fecha seu ano fiscal em 30 de setembro, encerrará o ano em US$ 407 bilhões. Ano passado, o déficit foi de US$ 161 bilhões, ou seja, mais que dobrou. Com o “pacotão” e outros resgates, estima-se que para o próximo ano o déficit fique entre US$ 700 bilhões e US$ 1 trilhão. Hoje o estoque da dívida corresponde a 65% do PIB (US$ 9,6 trilhões).

Para resolver o déficit em conta corrente, a saída será o resultado comercial, com uma provável desvalorização externa do dólar, somada à sua desvalorização interna (inflação). Caso não ocorra estas duas desvalorizações somadas, o dólar perderá mais valor no mercado externo, levando à sua substituição por outra unidade de conta internacional (provavelmente o euro). Agora, a inflação repercutirá em elevação da taxa de juros, retraindo ainda mais a atividade econômica e reduzindo o emprego e o crescimento dos EUA, prolongando uma possível recessão. Mas como a elevação da taxa de juros não pode ser feita em meio a uma crise de liquidez, deverá o Governo esperar a crise passar, para poder resolver o déficit em conta corrente.
Já o déficit público, deve o Governo apertar o cinto. Ainda mais agora que estão segurando o sistema financeiro com estes empréstimos. Neste caso, não há mágica: os gastos vão aumentar em 2009 com as ajudas ao setor financeiro e a arrecadação vai cair com o desaquecimento da economia.

Uma coisa é certa: a recessão norte-americana vai vir e continuar por um tempo (a não ser que se inicie uma nova segunda guerra, que foi a salvação do crash de 1929!). Se não vir do agravamento da crise financeira, devido a mais quebradeiras, virá com o ajuste econômico a ser feito depois da crise passar, sob pena de o dólar deixar de ser a unidade de conta internacional e a potencia EUA perder seu posto privilegiado.
A festa está longe de acabar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Numa visao teorica das coisas penso que esta confuso acreditar em uma teoria economica para explicar tais fatos. Mas acho, no final de minhas ideias, que a crise é a conseuquencia natural de ações irresponsaveis por parte do governo, que tenta resolver com ações mais irresponsaveis ainda. Viva lo Neoliberalismo.