Por Ederson Vieira Grandi
Afirmar que a atual crise americana é causada por um excesso de intervencionismo do Estado, em detrimento do mercado, é demonstrar o quão pouco se sabe sobra estes acontecimentos. Não foi o Estado que criou as operações de securitização. Não foi o Estado, mas o mercado financeiro que, buscando mais recursos para empréstimos, criou moeda vendendo dívidas a terceiros.
Os grande erro do Estado, que contribuiu para esta crise foi o fato de “largar a coleira” do mercado financeiro (ausência de regulação). O FED teve sua participação, quando seu presidente optou por favorecer o mercado de capitais americano com juros reais negativos, dando mais liquidez para a economia. Mas a crise está ligada a outra questão, que é mais técnica que teórica, principalmente não uma ilusão teórica, como a que vive a escola austríaca.
Aliás, receitar contração monetária em uma crise de liquidez (que por característica já sofre da falta da mesma) é pisar no acelerador em direção a um precipício! Neste momento da crise, os agentes econômicos não querem saber o que a teoria diz: eles querem estar mais seguros em meio às turbulências atuais. Os emprestadores de recursos institucionais querem seu dinheiro de volta, que dispenderam comprando os títulos das dívidas hipotecárias securitizadas. Quando os pequenos depositantes vêem que seus bancos sofrem de uma possível insolvência, vão correr atrás de seu dinheiro. Isto porque os agentes sabem que nunca há dinheiro para todos! É só fazer as contas: quantas vezes o maior agregado monetário equivale em relação à emissão feita pelo Banco Central?
Se o mercado tivesse condições de impedir esta crise, crises financeiras nunca aconteceriam no mundo capitalista. E quanto à intervenção no tratamento desta crise, a história mostra que todas as tentativas de o mercado curar-se a si mesmo falharam. Dar apenas aos bancos o poder de criar moeda, tirando este poder do FED? Primeiro, o FED não financia o governo; segundo, esta crise tem por base a fata de liquidez da moeda criada pelos bancos para captarem recursos para empréstimos.
Repito: ainda não terminou a festa!
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4 comentários:
Acho que neste momento surge a controversia que mata a teoria... se nao foi o Estado que criou a crise, por que deveria ser o mesmo agente o responsavel pela solução do caos? Que o mercado que se regule entao....
É facil querer liberdade de mercado e nao aceitar o fracasso, mas mais dificil é acreditar que o Estado deve mexer em alguma coisa baseado no fato que o Estado é culpado.
Ou aceite a culpa e tente resolver, ou deixe a banda passar.
Ola Matheus. Li os ultimos textos do blog, mais uma vez parabens pela iniciativa tua e do Ederson, que se destacam na arte de estudar a economia... eu ja voltei dos EUA, vamos conversar uma hora dessas, trocar uma ideia, eu trouxe alguns materias..pensei em fazer um artigo... um abraco
Ronaldo Ribeiro
ronaldoribeiri@gmail.com
* Os preços dos imóveis nos EUA têm estado no campo positivo desde 1997, sendo que desde 1998 a cada 2 anos os preços aumentavam na casa dos dois dígitos. O subprime e o processo de secutiritização descolou de sua média histórica a partir de 2002/2003.
* Na crise de 2001, o Fed optou por liquidez e ao mercado financeiro, em detrimento ao controle de inflação (mesmo que isso não tenha apresentado pressões inflacionárias) e a bolha imobiliária continuou firme.
* Muito da liquidez dos mercados eram gerados pela gestão de reservas de países superavitários, que controlavam sua taxa de câmbio, através dos "fundos soberanos".
* O ambiente econômico para a crise foi dado, o mercado financeiro fez seu papel de diluir riscos (securitização), geração de crédito de modo geral, intermediação financeira. Todos gozaram desse momento, desde os EUA até o Vietnã.
* A regulação não atuou sobre o que é recorrente em crises financerias - assimetria informacional, permitindo "off-balance sheets"; - seleção adversa, quando os empréstimos não observavam o mínimo de documentação exigida para sua concessão.
* Dessa forma, por que o Estado, nesse momento, solucionaria a crise? Como andam as expectativas de inflação de longo prazo nos EUA? Se era para intervir, por que não no mercado imobiliário evitando a desvalorização que houve, como sugere Zingales da Universidade de Chicago?
* A macroeconomia é muito mais que as curvas IS-LM. Hoje estuda-se desenhos de mecanimos, incentivos, instituições e custos de transação.
Boa tarde Sr. Anônimo (3° comentário).
Agradeço a sua participação e gostaria que continuasse participando deste blog! Sua contribuição é realmente proveitosa e gostaria, inclusive, que escrevesse alguns artigos para este meio de comunicação.
Um grande abraço,
Matheus Pacini, Economia Prática
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