Em meio às tempestades desta semana, está sendo apregoada a imunidade brasileira à crise que ocorre a nível internacional. As duas justificativas principais são: o Brasil não depende, em sua pauta de exportação, tanto dos EUA; o país tem mais de duzentos bilhões de dólares em reservas cambiais.
A pauta de exportação brasileira possui parceiros comerciais com maiores participações que os EUA. Mas ao final da corda, ainda os EUA são o maior mercado consumidor do mundo. Pode a China ser um dos principais responsáveis pela atividade econômica mundial ainda estar crescendo, mas ainda este país tem como maior cliente o Tio Sam. Este não demandando, um efeito dominó será percebido em 2009. Segure-se quem puder. Que garantias tem o Brasil de que está imune? O saldo positivo na balança comercial brasileira é responsabilidade dos preços das commodities que cresceram, pois as quantidades estão a níveis quase estagnados. E diversos estudos já mostraram que a disponibilidade de divisas é um entrave ao crescimento de um país. O texto deste blog intitulado “Restrições ao crescimento: a restrição externa” trata deste assunto.
Agora, quanto à disposição de divisas, temos três possíveis fontes de obter-las: por meio de superávits em conta corrente, saldos positivos na conta de investimentos e as reservas do Bacen adquiridas no mercado cambial. A segunda fonte é muito volátil. Investimentos externos estão sujeitos aos humores do mercado internacional: hoje estão aqui. Amanhã podem estar na China, Tóquio, Alemanha... Ademais, entram capitais hoje, a cada ano saem juros, dividendos e lucros que pressionam a conta corrente a um possível déficit (o que ocorreu recentemente com o Brasil). A terceira fonte, de onde advém o conforto do Governo, é um estoque que, na ausência de influxos de capitais e déficits na conta corrente, se esvaem, se acabam, se evaporam...
A única fonte sustentável de divisas é o superávit na conta corrente e esta é gerada por sucessivos superávits comerciais. Porém, existem entraves a estes: taxa de cambio supervalorizada, pauta de exportação pouco diversificada e os custos que encarecem os produtos brasileiros, em relação aos estrangeiros (custo-brasil): perversa carga tributária, falta de infra-estrutura, em termos de portos e estradas (Aviso: este último pode nos ser um gargalo perigoso, ainda no curto prazo!), burocracias excessivas, etc. Quanto ao custo-brasil, não faremos comentários. Todos estamos conscientes da sua influencia sobre a atividade produtiva brasileira.
Quanto à pauta de exportação, o Brasil tem conseguido sucessivos superávits comerciais por meio dos preços de commodities em ascensão, que são a sua principal composição. O quantum de exportação pouco variou nos últimos anos.
Já o cambio é um problema. Não adianta o país possuir custos de produção menores que o resto do mundo se a taxa de cambio nominal se apreciar continuamente, a taxa real de cambio e os termos de troca se deteriorarão continuamente. É o que temos visto: a balança comercial ainda está positiva, mas estes resultados tem sido cada vez menores. Primeiro porque os preços de commodities começaram a cair. Segundo, porque demais itens exportados tem sido penalizados, encarecidos no exterior pelas contínuas valorizações cambiais.
Poderia se argumentar que a taxa de cambio desvalorizou esta semana. Mas aconteceu porque o dólar ainda é o ativo mais líquido no mundo. Em períodos de incerteza demanda-se dólar e este se valoriza. A tendencia é de que, passando o susto desta semana, a taxa de cambio volte ao seu caminho de queda contínua valorização. Este fato é resultado da que dos juros americanos e europeus, na tentativa de manter a liquidez interna, somado à alta da taxa Selic. A liquidez não pára nos países onde são geradas. O FED tenta manter a liquidez nos EUA, mas esta se esvai pelo canal financeiro aos mercados “emergentes”. Esperamos um grande influxo de capitais nos próximos meses, se nenhum outro banco ou seguradora quebrarem!
A questão da disponibilidade de divisas sustentável não é tão simples quanto a se ter grandes reservas cambiais. No próximo ano talvez tenhamos que sustentar déficits comerciais, e com certeza em conta corrente, o que drenará parte destas reservas. O Ministério da Saúde adverte: grandes reservas não geram imunidade permanente a crises.
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