Enquanto líderes obtusos e ultrapassados reunirem-se em algum remoto para falar de assuntos de cunho global sem propriedade e metas reais, o máximo que se pode esperar é a falácia e acordos escusos. Exemplo disso foi comentado na reportagem da revista The Economist, disponível no original em http://www.economist.com/world/international/displaystory.cfm?story_id=11707751, e, abaixo, com tradução livre por Matheus Pacini.
Eles vieram, eles se cumprimentaram, eles falharam a conquistar
O encontro do G8 em Hokkaido
Como dignos mestres de cerimônias, os japoneses asseguraram que o encontro anual do G8, reunindo os líderes das maiores economias industriais (mais a Rússia), fosse livre de protestos furiosos que ocorreram em encontros semelhantes alhures. Tudo aconteceu em um resort nas montanhas em Toyako, ilha mais setentrional do Japão. Muitos ativistas estrangeiros foram mantidos fora da região em si, sendo que os protestos que ocorreram mantiveram-se em cidades distantes, controladas pela polícia. Mesmo os profissionais da mídia e representantes de ONGs foram acomodados em acampamento distante 20 milhas dos líderes.
Para Yasuo Fukuda, primeiro-ministro japonês, cuja situação doméstica é incerta, o tranqüilo decorrer do encontro foi um grande alívio. Ele mesmo demonstrou alguns lampejos de statemanship (1). Em resposta a perenes críticas de que o G8 (grupo auto-sugestionado para enfrentar problemas globais) dificilmente representava o mundo, ele convidou sete líderes nacionais do continente africano para se reunir ao Japão, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Rússia para discutir o desenvolvimento daquele continente.
Em outro ponto, Dmitry Medvedev encontrou-se trocando palavras não somente com os velhos parceiros capitalistas do clube, mas também com outros companheiros da gangue BRIC das economias em crescimento – em outras palavras, representantes do Brasil, Índia e China. Através destes convidados, mais México, África do Sul, Indonésia, Coréia do Sul e Austrália, os japoneses conseguiram pôr lado a lado os maiores emissores de gases do efeito estufa do planeta. Esta foi indubitavelmente a maior “conquista” por hora, e o Sr. Fukuda habilmente certificou-se de que os desacordos entre os participantes não fossem divulgados ao grande público. Prosseguindo assim, internamente se ouviu, e o líder de 71 anos poderá ser um competente ministro de relações exteriores.
Em substância, entretanto, o encontro foi desanimador. Há um ano, quando o encontro de Heiligendamm (Alemanha) aconteceu, os preços do petróleo e das commodities estavam metade dos níveis atuais, enquanto o Northern Rock era um desconhecido banco. No encontro de Toyako, os líderes do G8 analisaram os desafios dos três Cs – comida, combustíveis e calamidades financeiros do crédito – com comentários vazios, e pouco esforço foi feito para resolver a contradição entre os pedidos de maior produção de petróleo e a promessa de um futuro com menor dependência do carbono.
Na África, o alto preço dos alimentos pareceu fazer gozação às promessas feitas pelo G8 há três anos de aumentar os níveis de ajuda para US$ 25 bilhões até 2010, mesmo antes das ONGs insinuarem que o comprometimento era instável. (Aqui, embora, o Japão mantém a sua auto-estima: em maio, recepcionou um grande encontro sobre ajuda à África, prometendo um aumento significativo dos valores de doações e da transferência tecnológica).
O grande desapontamento diz respeito à mudança climática – apesar de alguns jogos de palavras. Ano passado, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, superou a relutância de George Bush e obrigou o G8 a prometer a “considerar seriamente” o corte da emissão de gases poluentes a menos da metade até 2050. Desta vez, o G8 jurou “considerar e adotar” os tais cortes. A Srta. Merkel pregou abertamente; os convidados entenderam isto como a maior conquista, vindo dezoito meses antes do encontro de 180 países em Copenhagen para decidir sobre o sucessor do Protocolo de Kyoto. De efeito, ao menos Bush estipulou uma meta quantitativa. Com somente 200 dias para acabar a sua presidência, esta pode ser a sua última participação na discussão do aquecimento global; diga-se de passagem, sua única contribuição.
A força do compromisso fechado pelo G8 começa a se enfraquecer mediante escrutínio – mesmo sem levar em conta a opinião de um cínico diplomata russo o qual aponta quão absurdo é para os políticos atuais a busca de cumprimento de objetivos de longo-prazo, 40 anos adiante. A linha temporal (ano base) a qual serão adaptados os ditos cortes foi deixada às traças. A UE deseja o ano de 1990. Por sua vez, o Japão (o qual unilateralmente diz que irá reduzir de 60-80% os níveis de poluição) pensa mais realístico 2005 ou até 2008. Os EUA não omitiram opinião.
Para alguns, a obsessão com metas distantes é equivocada. O G8 não poderia nem apontar metas de curto prazo – digamos para 2020. A falta de ações concretas e imediatas, segundo Michael Grubb da Carbon Trust, entidade criada pelo governo britânico para redução da dependência aos combustíveis fósseis, sublinha uma “abdicação de responsabilidade”. No máximo, ele diz, os líderes do G8 poderiam ter se comprometido a aceitar os cortes acordados na ONU como metas legais. Talvez, adicionalmente, poderiam trazer à negociação o grande e sujo mercado de combustíveis para aviação e navegação, o qual foi excluído do “teto” até o momento.
Sem sinais claros de uma conduta comum, não é surpreendente que os cinco maiores poluidores em desenvolvimento, os quais são responsáveis por uma pequena fração do CO2 atualmente obstruindo o ar, mas atores principais nas novas emissões percentualmente, neguem a firmar quaisquer metas congruentes. Um diplomata japonês preocupa-se que a relação entre o G8 e o chamado “G5” (Índia, China, Brasil, México e África do Sul) no que diz respeito à mudança climática pode chegar à forma de batalha, especialmente, na questão da mão-de-obra e administração dos negócios.
Talvez tais fraquezas sejam inevitáveis. Grandes desafios demandam líderes fortes. Se o Sr. Fukuda é fraco domesticamente, o Sr. Gordon Brown não está em melhor situação. O Sr. Bush é um “pato”, impopular. Nicolas Sarkozy da França esforça-se para compreender como e porque o entusiasmo de seus eleitores evaporou. Em todas as grandes democracias os três Cs contribuíram para um sentimento de insatisfação. Os líderes encontram-se punidos, e até mesmo magoados, pela falta de confiança dos seus votantes.
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