terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Traduções da semana 1

Boa tarde Pessoal,

Confiram minhas traduções em:

http://www.libertarianismo.org/index.php?option=com_content&view=article&id=576:um-inovador-em-cada-apartamento&catid=34:artigos&Itemid=58

http://www.libertarianismo.org/index.php?option=com_content&view=article&id=556:dominio-eminente-como-planejamento-central&catid=34:artigos&Itemid=58

Obrigado,
Matheus Pacini

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Perfil do País - Brasil - Revista Global Finance

Pronto para jogar.

Enquanto se aproxima o fim do governo Lula, o país está projetando um futuro brilhante – e uma eleição presidencial que está longe de uma conclusão antecipada.

Por Antonio Guerrero

Quando Luis Inácio Lula da Silva candidatou-se à presidência do Brasil em 2002, os players do mercado temiam que a retórica esquerdo-trabalhista iria traduzir-se em problema para a maior economia da América Latina. Acima de tudo, ele falava de justiça social e de um default da dívida. No poder, Lula perseguiu seus programas sociais concomitante a prudentes políticas econômicas e responsabilidade fiscal. Sete anos depois, aquelas mesmos players esperam que o Brasil escolha um sucessor no próximo ano quem irá continuar com o programa econômico de Lula. Mesmo seus oponentes, provavelmente, o farão.
Os mercados não esperam muitas surpresas durante as eleições presidenciais de outubro de 2010, ao contrário da campanha de 2002, na qual os sinais de uma vitória avassaladora de Lula causaram convulsão na taxa de câmbio e nos mercados acionários. “Um ano de eleições é repleto de emoções, mas agora nós estamos falando de emoções em um nível diferente”, Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, comentou delegados em um recente fórum de investidores. “As opiniões convergem na constatação das vantagens da estabilidade econômica; isso reduz em muito a possibilidade de incerteza”, adicionou Fraga, quem agora faz parte da BMF Bovespa em São Paulo.

Isso não significa que a campanha será fácil. Lula, constitucionalmente proibido de se candidatar a um terceiro mandato, acredita que os brasileiros elegerão o seu apontado sucessor, a chefe da casa-civil Dilma Rousseff, apesar de a sua aposta estar indo abaixo do esperado.

De acordo com a pesquisa Sensus de setembro, Rousseff recebeu somente 19% das intenções de voto, abaixo dos 23,5% de maio. O governador de São Paulo José Serra, do partido de oposição PSDB, o seu provável adversário e quem perderam a última eleição para Lula em 2002, recebeu 39,5% em setembro, mostrando uma queda de somente 1% desde maio.

A posição de Dilma Rousseff pode ter sido atingida como resultado de um escândalo ético envolvendo outro aliado de Lula e a percepção de que a administração não tem agido de forma rápida para parar a disseminação do vírus H1N1, pois o Brasil é agora o maior em número de vítimas. Alguns analistas questionam a saúde de Dilma – ela fez sessões de quimioterapia no inicio desse ano para tratar linfoma – poderia também explicar o porquê um candidato apoiado por um presidente com 77% de aprovação já não é considerado vencedor. Com a aprovação recente pelo Congresso do projeto que permite o uso da Internet para a propaganda eleitoral, Lula chamou alguns consultores que organizaram a campanha digital de Barack Obama para auxiliar na melhoria da imagem de Dilma.

A chegada de candidatos sorrateiros está temperando o mix. Entre eles, está Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, quem saiu do PT por causa de diferenças referentes ao desenvolvimento da Agricultura e Infra-estrutura na região Amazônica. Agora um membro da oposição (Partido Verde), Silva, uma ativista ambiental que foi criada em uma família de seringueiros, pode roubar alguns membros da classe operário do PT. Como uma cristão-evangélica, ela pode também atrair alguns votantes conservadores.

Quando a Suprema Corte em agosto retirou as acusações contra o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, um aliado próximo a Lula, que tinha violado segredos bancários para silenciar uma testemunha em um escândalo de compra de votos, alguns observadores políticos disseram que ele poderia ocupar o lugar de Dilma caso ela perdesse momentum. Palocci, agora um senador do PT, é creditado por controlar a inflação e cortar o déficit orçamentário. Ainda tem de lutar contra o fantasma de outro escândalo político que o levou a sua resignação como ministro das finanças em 2006.

Não existe dúvida que Dilma Rousseff iria dar continuidade ao programa econômico de Lula, embora ela possa ser mais esquerdista do que o seu mentor. É por causa disso que os analistas sugerem que o presidente do BC Henrique Meirelles pode ser colocado como vice-presidente na chapa, de modo a reduzir as preocupações sobre as opiniões ideológicas da mesma. Meirelles, apontado em 2002 e o atual presidente do BC (de maior permanência no cargo na história), diz-se que está de olho na oportunidade de ser governador do seu estado natal, Goiás, intenção que acarretaria na saída obrigatória do atual posto de trabalho até abril próximo.

“Nesse ponto, parece que José Serra, o governador centro-direita de São Paulo, é o favorito para ganhar”, diz Álvaro Vargas Llosa, professor sênior do Independent Institute Center on Global Prosperity em Washington, DC. “Se Serra vencer, as políticas atuais quase certamente continuarão”. Varga Llosa sente que se Lula e Rousseff decidirem procurar apoio na ala radical do PT para ganhar pontos contra Serra, a situação pode complicar-se, abrindo um novo caminho para os seus oponentes, incluindo aqueles que saíram do PT, para lançarem críticas mais claras contra a administração.

Vargas Llosa acredita que, se por outro lado, Dilma ganhar, existirá continuidade, porém ela poderá enfrentar alguns problemas devido a sua falta de carisma (em comparação a Lula) e a potencial inaptidão de manter unido um PT fracionado. “Em termos de orientação econômica, tudo dependerá de quão disposta estará ela a quebrar com as alas esquerdistas do partido e quanto suporte Lula pode dar de fora”, ele diz. “Eu estou otimista sobre a continuidade da atual política econômica, contudo a situação política não está clara, e mais reformas econômicas ainda são necessárias para que o Brasil materialize o seu potencial”.

Andrew Bela Jansky, um parceiro no escritório de advocacia Shearman & Sterling, conselheiro das operações de M&A, não prevê nenhuma mudanças radicais a frente. “Eu penso que o controle da inflação tornou-se uma preocupação absolutamente central nos círculos políticos brasileiros, quase uma lei sagrada”, ele diz. “Então, prosseguirá o uso da taxa de juros para diminuir ou aumentar a atividade econômica. Em um país faminto por financiamento com uma longa, porém desvanescente, história de inflação calamitosa, o que para muitos parece um ambiente de taxas de juros absurdamente altas é para o brasileiro médio o surgimento de uma nova era de aquisição de casas e consumo”.

Quem ganhar irá herdar uma forte economia, reconhecida pelos “investment grade” da Standard & Poor, Fitch e, mais recentemente, da Moody. O Brasil foi um dos primeiros países do G20 a sair da recessão – e o primeiro na América Latina. “A economia brasileira reagiu mais rápido que nós originalmente pensávamos, e a economia oficialmente saiu da recessão no segundo trimestre, conduzida pelo consumo e exportações líquidas”, diz artigo da Standard & Poor. “Nós esperávamos que o Brasil sofresse uma leve contração esse ano, mas agora projetamos que o país irá crescer 0%”
Alguns analistas prevêem uma leve contração de quase 0,4% nesse ano, seguindo o crescimento do ano passado (5,1%), embora a maioria acredite que o país verá uma expansão de 4%-6% em 2010. Um incremento no crédito doméstico, uma queda no desemprego e os cortes temporários de impostos para a compra de automóveis e linha branca lideraram o crescimento. O governo mantém a sua meta de inflação em 4,5% para 2009 e 2010.

Lula prometeu não aumentar os gastos públicos para amparar a campanha presidencial do PT, no entanto, alguns analistas adotam uma postura cuidadosa. “A política fiscal manter-se-á relaxada no decorrer de 2010, pois é ano de eleição, e a política monetária será forçada a pegar pesado”, escreveu Douglas Smith, chefe-economista do Standard Chartered para as Américas, em pesquisa de setembro. O Standard Chartered prediz que o BC irá elevar a taxa de juros overnight no primeiro semestre de 2010, visto que a recuperação econômica pode causar inflação. A taxa, atualmente em baixa recorde, 8,75%, após chegar ao topo de 13,75%, é esperada aumentar para 9,25% no início do ano que vem.

“De acordo com o orçamento 2010 submetido ao Congresso, alinhado com nossas previsões, o fisco sugere um leve aperto da política em 2010, contudo, o esforço fiscal do governo manter-se-á muito mais fraco do que em anos recentes”, afirma a Standard & Poor´s. As agências de risco notam que as receitas tributárias caíram drasticamente nesse ano, devido a cortes temporários de alíquotas e mais lenta atividade econômica, o que permite concluir que o superávit primário do governo (que não considera o pagamento de juros), irá diminuir em 1,5 e 2% do PIB em 2009, dos 3,5% de 2008. A agência prega que a decadente taxa de juros irá contribuir para uma leve expansão do déficit total. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que a meta do superávit primário será fixada em 3,3% do PIB para 2010, dos atuais 2,5%, depois de cortado para facilitar os gastos via estímulo.

Da mesma forma, a nova administração deverá tratar da questão do pré-sal, que colocará o Brasil na posição de maior produtor de petróleo. Os novos poços possuem, em estimativa, 50 mil barris de petróleo, e Lula disse que as receitas deveriam ser vinculadas para a educação, tecnologia e redução da pobreza. Para esse propósito, ele encaminhou uma nova lei dando ao governo maior poder sobre reservas offshore.
Vargas Llosa acredita que a medida pode ser abandonada. “Ele (Lula) está concentrando muito poder no estado através da criação de entidades que controlarão como os campos são explorados e manterão uma grande porção dos lucros, reservando a grande fatia dos negócios a Petrobras”, ele diz. “Tudo isso pode dissuadir os investidores, acabando-se por usar tal riqueza de forma puramente política”. Até agora, os investidores não se afastaram e podem ser atraídos pelas oportunidades dispostas não somente pelo setor petrolífero, como também pela Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos 2016. O IED (Investimento externo direto) é esperado alcançar 25 bilhões nesse ano.

A nova administração terá de prosseguir sobre as bases de Lula. “O maior desafio, se não para a administração vindoura mas certamente para as futuras, pode ser a de uma grande parte da população com reais expectativas pelos seus governantes”, conclui Bela Jansky da Shearman & Sterling, “ um grupo politizado que deve pela primeira vez na história do país não vai se contentar com um clima agradável, lindas praias e grandes jogadores de futebol, e que vai reclamar um nível de vida melhor.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Tradução The Economist - The Other D-Word

Segue abaixo um artigo traduzido da revista The Economist sobre a economia japonesa. O artigo em inglês pode ser lido em http://www.economist.com/businessfinance/displaystory.cfm?story_id=14943913

A doente economia japonesa

A OUTRA PALAVRA COM D

Está o Japão de volta na armadilha deflacionária?
Enquanto que recentemente os investidores tem estado divagando sobre a grande dívida, outra maligna “D-palavra” voltou a assombrá-los. Na sexta-feira, 20 de novembro, o gabinete japonês publicou um report mensal que pela primeira vez desde 2006 reconheceu que o país estava sofrendo deflação.

Os preços ao consumidor tem estado verdadeiramente caindo por meses; contudo, o passo de declínio acelerou durante o verão. Em setembro, os preços caíram em 2,2% comparado com o ano anterior. Isso é em parte devido ao país ainda estar repleto de capacidade em excesso depois do colapso das exportações no decorrer da crise financeira global, e também porque os preços do petróleo eram menores neste setembro, comparado com o mesmo mês do ano anterior. Há, todavia, mais problemas estruturais. Com o declínio da população, por exemplo, os varejistas são forçados a cortar preços para ganhar market share.

Não é coincidência que o novo governo de Yukio Hatoyama escolheu o dia quando o Banco do Japão estava sediando a reunião para estipular a taxa de juros e fazer estardalhaço sobre o assunto. Ambos o primeiro-ministro e o ministro da fazenda fizeram comentários preocupados. A sua sutil mensagem para o BJ foi clara: remova as medidas de estimulo monetário por sua conta e risco. Depois de dois dias de encontro, o BJ deixou a sua taxa inalterada (0,1%) e continuou a usar outras medidas, como a compra de títulos do governo, a qual acredita tornar a política monetária “extremamente acomodativa”

Porém o BJ não dá a impressão que está particularmente preocupado com os preços. Acredita que ainda não existem sinais claros de comportamento deflacionário nas corporações ou no público em geral, e que uma recuperação na demanda privada irá eventualmente retirar a economia de sua tendência de queda.
Alguns economistas vêem tal postura como uma complacência perigosa. As próprias previsões recentes do BJ predisseram que uma mudança ano-a-ano no IPC, excluindo-se alimentos, seria negativa nesse ano, no próximo e em 2011. Na quinta-feira, a OECD emitiu uma forte injunção ao BJ para lutar contra a deflação através do comprometimento de manter as taxas de juros em baixa e da implementação de medidas de quantitative easing até a inflação tornar-se “firmamente positiva”. Alguns advogam passos mais radicais para reinflacionar a economia, tais como cobrar os bancos no momento que depositam no BJ. Proponentes dessas medidas temem que os negócios irão retrair-se.

Da mesma forma, o governo deseja que o BJ mantenha sua parcela para estimular o crescimento, por que o déficit fiscal já está projetado a chegar em 10% do PIB no próximo ano e ainda existem as promessas de campanha. O governo deu-se uma dose de boas notícias em janeiro quando foi reportado que o crescimento econômico tinha crescido no terceiro trimestre, chegando a 4,8% em uma base anualizada, o qual foi melhor do que esperado. Mas a maior parte da variação foi devida ao gasto público; a demanda doméstica estava ainda fraca e o deflator da demanda-doméstica (uma medida de inflação excluindo os efeitos relacionados aos preços de importação e exportação) foi o mais baixo em mais do que 50 anos, de acordo com a Lombard Street Research, uma consultoria econômica.

Entretanto, não é só o BJ que precisa fazer mais para combater a inflação. O governo do senhor Hatoyama, desde setembro no cargo, até o momento, tem falhado em lançar políticas econômicas claras. A proposta dele é reequilibrar a economia por meio da demanda doméstica, contudo, não está claro como pretende fazê-lo. Entrementes, foi sugerido mexer com as práticas salariais e de contratação/demissão que os exportadores dizem iria enfraquecê-los em um tempo que eles já estão esforçando-se para resistir a um forte yen.

Aumentar a tendência de crescimento do Japão iria ser difícil, em se considerando o envelhecimento e diminuição da população. Porém, não é impossível: a produtividade poderia ser aumentada dramaticamente, em especial, no setor de serviços. Um período sustentado de alto crescimento iria ter uma efeito duplo de acabar com os problemas da dívida e da deflação. Se o susto dos duplo-D nas últimas semanas ajudar a convencer o governo do Sr. Hatoyama disso, seria um bom sinal. Tristemente, não se pode contar com isso.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mexendo na sua poupança

Por Matheus Pacini e Daniel Simões

Remontando ainda ao período do Império do Brasil (1822-1889) (1), sendo produto da criação da Caixa Econômica da Corte (atual CAIXA) e pensada, em parte, por Dom Pedro II, a caderneta de poupança, desde a sua origem, objetiva ser uma reserva monetária para as camadas mais humildes da população, para as quais se torna um porto-seguro, onde suas economias serão mantidas, com vistas à utilização em momentos de aperto financeiro, ou mesmo como auxílio na velhice. É uma definição “romântica” que vem sendo historicamente utilizada pelos políticos do nosso Brasil.

E pelas ironias da vida, ela está sendo ameaçada pelas garras do Leão. O projeto de lei, proposto pelo Ministério da Fazenda, prevê a taxação dos rendimentos sobre o saldo excedente a R$ 50.000,00 que um indivíduo possua aplicado na caderneta. Isso vindo de um governo, supostamente, popular ou dos trabalhadores.

A ação governamental tem como propósito primordial a não-equiparação dos rendimentos da poupança, em termos de rentabilidade, aos títulos públicos e privados, pois Guido Mantega teme que os grandes investidores em títulos decidam transferir seus capitais para poupança, já que a remuneração dos títulos dá-se principalmente pela SELIC, atualmente em queda.


A taxa básica de juros nos últimos cinco anos despencou de 19,75%, em meados de 2005, para 8,75%, no patamar atual. Segundo dados do Banco Central, o saldo total da caderneta de poupança aumentou em 85% nesse mesmo período. Afirmar que redução de 11 p.p. da SELIC foi responsável por esse aumento necessita de um estudo mais específico. O fato é que a poupança tornou-se, como se pode concluir da tabela acima, uma aplicação que ganhou destaque, principalmente quando se trata de aplicação de renda fixa. Observe que apesar do rendimento da poupança ter-se reduzido, aproximou-se das aplicações como CDB (Certificado de Depósito Bancário) e dos Fundos de Investimento Extramercado.

E porque o governo emite títulos? Porque o governo federal gasta mais do que arrecada. Isso gera déficit e só tem duas saídas: ou o governo emite dinheiro sem lastro provocando inflação, ou apela para o mercado e vende títulos financeiros representativos da dívida pública. Se o déficit continua crescendo, o governo vende mais títulos e vai se endividando cada vez mais. Para a dívida parar de crescer só há dois caminhos: novos tipos de impostos (ou aumento das alíquotas dos existentes) e, outro não tão popular, especialmente em época eleitoral, a redução das despesas.

É prudente abrir um parêntesis aqui, para brindar o sarcasmo no fato de considerar como “abastados” pessoas que têm uma poupança de R$ 50.000,00. Acredito fielmente que se fôssemos perguntar aos proprietários de tais fundos para que o dinheiro seria utilizado, provavelmente, mencionar-se-ia o casamento de um dos filhos, o sonho de construir uma casa ou, até mesmo, a vontade de comprar um trator. Em todo caso, devia-se perguntar ao Sr. Guido Mantega a razão pela qual não são taxados os ganhos oriundos da especulação financeira feita por estrangeiros, que totalizam muito mais do que R$ 50.000,00/especulador?

Nessa questão, como em todas as outras, a maior parte da população interpreta o fato (intenção de taxar a poupança) isoladamente de um contexto, parecendo que as decisões de política pública são meros arranjos do acaso. Frente ao exposto, por exemplo, na revista Conjuntura Econômica (Setembro/2009), no espaço da Carta do IBRE, “A carga tributária e os nossos dilemas”, não há o consenso sobre qual é o papel que o Estado deve exercer nas nossas vidas (e o que queremos verdadeiramente financiar via tributação). Caso não ocorra um debate franco dentro da sociedade como um todo, podemos comprometer quaisquer chances de um real crescimento estável de longo prazo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Tradução The Economist - "The nature of wealth"

Hoje em dia é complexa a definição do que é riqueza em termos reais e em termos financeiros. Este texto, "A natureza da riqueza", traduzido por mim, dá-nos um pouco de luz sobre a questão. O original, da revista The Economist, pode ser acessado em

http://www.economist.com/businessfinance/displaystory.cfm?story_id=14587262

Buttonwood

A Natureza da Riqueza

O mundo confundiu propriedades de origem financeira com as reais

No cerne da crise atual está a confusão fundamental sobre a natureza da riqueza. Pense nisso da perspectiva de um “marciano”. Fosse a um extraterrestre mostrado um quarto com lingotes de ouro, pilhas de notas de 20 dólares e uma série de números na tela de um computador, ele poderia ficar confuso em relação as suas funções. Nossa reverência por esses objetos pode parecer bizarra a ele como o comportamento do macho Construtor-de-Cetim (o qual decora o seu ninho com objetos brilhantes para atrair uma parceira) parece a nós.

Riqueza consiste de mercadorias e produtos que desejamos consumir ou de coisas (fábricas, maquinários e força de trabalho educada) que nos possibilitam produzir mais de tais mercadorias e serviços. Ativos financeiros surgem do desejo de postergar o consumo de forma que o dinheiro possa ser salvo, ou por motivos de precaução ou para investir com o objetivo de se consumir mais bens e serviços no futuro.

Visto dessa forma, o ativo financeiro não é “riqueza”, mas um clamor sobre a riqueza real. Se esses clamores multiplicam-se ou aumentam de preço, isso não significa que a riqueza agregada tenha aumentado. Se uma pizza é cortada em oito ao invés de quatro pedaços, não existe mais alimento a ser comido. Se a cada pessoa sentada na mesa dá-se frações de uma pizza, e o preço de cada fração aumenta de US$ 1 para US$ 2, a refeição continuará do mesmo tamanho.

A razão cabal pela qual o valor dos papéis (ações) cresce com o passar do tempo, por exemplo, é que elas estão ligadas aos bens e serviços produzidos pelas companhias. Ao passo que há crescimento da economia, ocorre o aumento das receitas de tais firmas. Assumindo que as margens permaneçam as mesmas com o passar do tempo, os lucros irão aumentar e, da mesma forma, o fluxo de dinheiro para os acionistas.

Essa verdade é obscurecida pelo ciclo econômico, a qual faz com que as receitas e as margens flutuem, e pelas vicissitudes do sentimento do investidor, o qual faz com que os pedaços (ações) sejam desvalorizados ou revalorizados (o retorno sobre o dividendo em alta e baixa). Um aumento no preço da ação que é conseqüência de um re-rateio não nos torna mais ricos no agregado, ao menos que o re-rateio represente uma predição acurada sobre uma melhoria na taxa de crescimento da economia no longo prazo.

No entanto, as pessoas utilizam a Bolsa de Valores como um barômetro da saúde econômica. Dessa forma, um aumento no mercado acionário pode ser (e tem sido) visto pelo governo e os banqueiros centrais como uma evidência que a economia está tomando o caminho certo. Isso pode conduzir a erros de política, como uma postura monetária frouxa, e mais exuberância irracional.

O mercado imobiliário é mais complicado do que o acionário, visto que as pessoas utilizam as suas casas (abrigo, relaxamento) enquanto, simultaneamente, tratam-nas como propriedades. Mesmo assim, um aumento no preço das casas que supere o crescimento econômico (em %) não torna a sociedade mais rica. Ao invés disso, tudo que é alcançado é a transferência de riqueza dos novos compradores para os aposentados que estão saindo do mercado de propriedades.

Na teoria, os preços dos imóveis podem aumentar mais rápido do que o PIB por algum tempo se os cidadãos decidirem devotar mais de sua renda para adquirir imóveis (por exemplo, eles podem preferir um apartamento maior a um carro maior). Na prática, é difícil separar tais mudanças estruturais da especulação que é proeminente em todos os booms de propriedade.

É a ligação entre a especulação e o preço das ações que explica a crise. A habilidade de se tomar emprestado dinheiro para comprar ações fomentou a subida dos preços das ações. E o efeito-riqueza sobre a valorização dos preços persuadiu aos países de língua inglesa a tomar emprestado dinheiro para sustentar o consumo.

Alguns meses atrás, A BBC transmitiu um programa sobre o uso do cartão de crédito. Um homem falou que se sentia “mais rico” porque ele tinha sido premiado com um limite de crédito de cinco mil libras (US$ 8,000). É claro que, assim que usou o cartão ele estava mais pobre. Não somente ele teve de pagar as 5 mil libras, como também a taxa de juros de dois dígitos. Similarmente, aqueles que compram uma ação supervalorizada com dinheiro emprestado não se tornaram mais ricos, mas sim, pobres.

Pensar sobre a riqueza dessa forma também é útil quando se tratando de pacotes de resgate para a economia. Essas propostas irão aumentar a quantidade de mercadorias e serviços que a economia produz no longo prazo, ou terão conseqüências que, na verdade, restringem a atividade econômica? Será que a política de quantitative easing realmente alimenta a criação de riqueza ou simplesmente cria mais “direitos” em relação a um conjunto de propriedades já existentes (especulação)?

Os bancos centrais estão repetidamente intervindo para salvar os mercados financeiros, ou riqueza de papel, nos últimos 20 anos. Mas eles levaram os preços a níveis que simplesmente não refletiam os fundamentos de longo prazo? Os esquemas engenhosos de John Law, um financista do século XVIII, para manter o valor das ações da trading do Mississipi não foram vitoriosos no final, por que o delta não era o El Dorado prometido aos investidores, porém um fétido lamaçal.