terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Opiniões da revista Conjuntura Econômica - resumo

Qual é o impacto da atual crise financeira no Brasil? Qual o ponto de vista sobre as origens e as soluções para a balbúrdia estabelecida tanto no lado financeiro como no real da economia global? Estes e outros assuntos serão discutidos aqui. Um balanço do melhor publicado sobre a crise na mídia especializada brasileira e internacional.

Em primeiro lugar, toma-se como base a Carta do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia). Nela, de modo introdutório, destaca-se que a crise é produto de causas múltiplas e complexas, sendo prudente não tomar uma explicação como cabal e definitiva. Em fevereiro de 2007 surgiram os primeiros sinais oficiais de que os níveis de não-pagamento (default) no que tange às hipotecas subprime estavam em um grau preocupante, tanto que agências de risco - como a Moody´s - rebaixou a nota dada a vários instrumentos financeiros relacionados a tal. Há de se saber que a pressão para o afrouxamento dos quesitos técnicos necessários para a aquisição de hipotecas iniciou-se ainda no governo Clinton (seguido à risca por Bush), o qual, indiretamente (via influência política), tornou agências como Fannie e Freddie Mac praticamente paraestatais. Mesmo que sem controle, o movimento de massificação da casa própria havia começado.

Com a liberdade política, a engrenagem financeira "construiu um sistema que estabelecia um vínculo entre o ganho do banco e o valor do imóvel, na forma de uma multa que o mutuário teria de pagar quando renegociava em condições mais vantajosas", logo, com o banco sendo "parceiro" nos ganhos do mutuário, era estipulada a louca expansão dos beneficiários, visto que o aumento dos preços tinha racionalidade econômica e, conseqüentemente, significava lucros. A partir de 2007, com a deflação nos preços das residências, as pessoas não tinham como manter seus pagamentos, levando ao estrangulamento deste veículo irresponsável de crédito. Parte da culpa concerne às próprias agências de risco que, pelo seu desconhecimento estatístico e pressão por parte dos seus clientes, fundos de pensão e seguradoras, avaliou positivamente as operações estruturadas com hipotecas subprime.

Outro ponto a ser sublinhado diz respeito aos bancos de investimento. Em retrospectiva, percebe-se que a falta de regulação levou à tomada de decisões contrárias à lógica do comportamento bancário, apostando em níveis de alavancagem estratosféricos, na vã esperança do crédito farto e inacabável. A partir da quebra do Lehman Brothers, a maioria dos investidores automaticamente alertou-se sobre os riscos à frente, encetando uma corrida à liquidez, o que teve como conseqüência a queda no valor dos ativos na bolsa de valores. Um dos países que ainda está sofrendo por causa disso é o Brasil, pois a grande parte do capital externo especulativo aplicado na Bovespa evaporou dentro de alguns dias, sendo transferido para os títulos norte-americanos e, também, no intento de cobrir as chagas abertas por mutuários desejosos de retirar seu dinheiro.

O pânico instaurado no sistema interbancário conjugou um aperto geral do crédito na economia; de pronto, Bancos Centrais de várias nações tomaram medidas como redução da taxa de redesconto, da taxa de juros, abrindo canais, inclusive, para a compra de ativos privados e de empréstimos delinqüentes. Ainda, há projetos de uso da política fiscal, isto é, gastos públicos seguirão trajetória de alta e déficits tornar-se-ão mais comuns ainda em nosso país. Por parte do setor privado, o que se constata são empresas dependentes do comércio exterior com suas finanças altamente comprometidas pela falha nos instrumentos derivativos antes considerados como os salvadores da lavoura, nos idos de real valorizado. A tentativa de ganhos financeiros para suplantar as perdas de receitas advindas de uma taxa de câmbio valorizada não foram suficientes, significando prejuízos de milhões/dia como castigo, até que os mercados se restabilizem.

2 comentários:

Anônimo disse...

A reportagem mencionada acima menciona, no original, que os instrumentos de derivativos seriam responsáveis pelo comprometimento das finanças de empresas exportadoras.
No que conheço de mercado financeiro, os derivativos são instrumentos de proteção, por isso derivam de um ativo para gerarem proteção quanto a oscilação do mercado, trazendo estabilidade ao fluxo de caixa, agregando estabilidade ao planejamento de caixa. Por exemplo, no caso do câmbio, o derivativo comum era a NDF (Non Delivery Forward), onde a empresa exportadora "vendia" (é um mercado que opera com risco fracionário), dólares ao preço "spot" e o banco corrigia à CDI para ajuste futuro (vencimento da operação), ou seja, num prazo de 180 dias, se o dólar fosse comprado a R$1,60 + CDI do período e no vcto estivesse a R$2,10, a empresa pagaria (débito em conta) a diferença do valor por dólar. Isso é prejuízo, mas se a empresa tivesse exportado, ela iria a mercado com suas notas cambiais e as venderia (na prática, no mercado "spot"), recebendo o dólar de R$2,10. A operação se anulava. Na prática era como se ela tivesse exportado a R$1,60.
É complexo, mas a idéia é que o prejuízo financeiro ocorreu em empresas que especularam com esses instrumentos (como a Sadia declarou), ou se expuseram em demasia (gestão de risco é essencial hoje em finanças corporativas), a risco cambial - dívida atrelada a variação cambial, como é o caso da Aracruz.
Nesse sentido, acredito que as falhas na gestão dos derivativos é que foram penosas.
Num momento em que a regulação e o intervencionismo vem à tona, ameaçando os avanços do mercado financeiro (como as ameaças ao fim da securitização, p. ex.) é importante diferenciar instrumentos ineficientes de má gestão financeira.

Anônimo disse...

A reportagem mencionada acima comenta, no original, que os instrumentos de derivativos seriam responsáveis pelo comprometimento das finanças de empresas exportadoras.
No que conheço de mercado financeiro, os derivativos são instrumentos de proteção, por isso derivam de um ativo para gerarem proteção quanto a oscilação do mercado, trazendo estabilidade ao fluxo de caixa, agregando estabilidade ao planejamento de caixa. Por exemplo, no caso do câmbio, o derivativo comum era a NDF (Non Delivery Forward), onde a empresa exportadora "vendia" (é um mercado que opera com risco fracionário), dólares ao preço "spot" e o banco corrigia à CDI para ajuste futuro (vencimento da operação), ou seja, num prazo de 180 dias, se o dólar fosse comprado a R$1,60 + CDI do período e no vcto estivesse a R$2,10, a empresa pagaria (débito em conta) a diferença do valor por dólar. Isso é prejuízo, mas se a empresa tivesse exportado, ela iria a mercado com suas notas cambiais e as venderia (na prática, no mercado "spot"), recebendo o dólar de R$2,10. A operação se anulava. Na prática era como se ela tivesse exportado a R$1,60.
É complexo, mas a idéia é que o prejuízo financeiro ocorreu em empresas que especularam com esses instrumentos (como a Sadia declarou), ou se expuseram em demasia (gestão de risco é essencial hoje em finanças corporativas), a risco cambial - dívida atrelada a variação cambial, como é o caso da Aracruz.
Nesse sentido, acredito que as falhas na gestão dos derivativos é que foram penosas.
Num momento em que a regulação e o intervencionismo vem à tona, ameaçando os avanços do mercado financeiro (como as ameaças ao fim da securitização, p. ex.) é importante diferenciar instrumentos ineficientes de má gestão financeira.