sábado, 27 de dezembro de 2008

Crise, sociedade e consciência

A questão da crise econômica já alcança um escopo praticamente impensável há alguns meses atrás, isto é, demonstra-se que os problemas ultrapassam o escopo financeiro, para o político (eleições norte-americanas), jurídico (regulamentação das atividades financeiras) e social. Contudo, o que ouço nas ruas é uma tendência a entender o aumento do nível de desemprego, a perda de poder de compra dos salários e as falências como subproduto de nossas mentes, dita psicológica, com viés de curto-prazo. Acredita-se que por meio de uma ferramenta de negação da realidade, encontrar-se-ão as respostas. Vital engano.

Este é um momento relevante para o economista, o qual é um profissional que, apesar de escrever artigos acadêmicos (usando modelos, estatísticas e fórmulas matemáticas) não comprovados por “método científico” – pelo que é comumente criticado - é indubitavelmente um concreto estudioso das ciências sociais. No contexto de uma queda generalizada nos níveis de atividade (PIB), abrem-se portas no ambiente político para que sejam recepcionadas as idéias dos economistas no que tange às mudanças no seio das instituições que balizam a vida em sociedade, visto que a opinião pública teoricamente é mais incisiva quando é desequilibrada a estabilidade registrada.

Ao invés de explorar as oportunidades e discutir as reformas integrantes na receita para o crescimento de longo prazo de nosso país, revistas como a EXAME preferem regurgitar assuntos indigestos e malhar os profissionais de mercado pelas perdas no mercado financeiro – a exemplo da reportagem “Para que servem os analistas”, o que é, diga-se de passagem, retrógrado (tanto que a própria publicação foi combustível inflamável na queima das reservas de muitas pessoas), ao passo que o ambiente propício às reformas vai se esvaindo. Reformas? Quais?

A visão do político como um cidadão aberto à corrupção, lobbies e todos os tipos de prejuízo à sociedade não é nova. Escândalos mil tornaram-se rotina e são exibidos quase que diariamente nos meios de comunicação. Não é comum, entretanto, verificar que as origens deste comportamento remetem a uma verdade dolorosa: há vários partidos sem alma, muito menos propostas concretas para o Brasil. É complexa a tarefa de se encontrar uma solução holística para o caso, mas existe a tentativa válida de dirimir isto através da chamada Reforma Política (http://www.amb.com.br/portal/docs/reformas/politica/Cartilha_148x210.pdf), a qual tem como objetivo a modificação, a nível constitucional, da legislação brasileira no que diz respeito à estrutura política, isso entendido, as eleições, partidos políticos e assuntos relacionados ao mandato e representação política. Mesmo que sejam vinculadas notícias na mídia de que o andamento está a passos largos, não se percebe a real profundidade do comprometimento da esfera decisória como um todo, porquanto mudanças deste tipo afetam diretamente os atuais titulares do mandato. Se a população que é a peça ativa no processo eleitoral, pela via do sufrágio, não aparentar mínimo interesse na questão, que não sejam levantadas as viscerais críticas em retrospectiva. Afinal, depois do fato, é fácil esbravejar.

No que tange à tributação, há consenso de que é excessiva, complexa e ineficaz. Neste intento, em fevereiro de 2008, o governo liberou um documento (http://www.fazenda.gov.br/portugues/documentos/2008/fevereiro/Cartilha-Reforma-Tributaria.pdf) o qual esclarece todos os tópicos a serem aplicados no tocante ao aumento da eficiência do gasto público, redução da guerra fiscal entre os Estados, edificação de planos de desenvolvimento regional e, principalmente, a simplificação do sistema tributário, isto é a proposta de Reforma Tributária, a qual já é fato consumado em países desenvolvidos e é crucial na cruzada contra o inchaço da máquina pública, facilitando o investimento tão necessário para a maximização de nossa economia de país emergente, rico e de possibilidade latentes de sucesso. Como nos fala Rubens Penha Cysne, professor de pós-graduação em Economia da FGV, sobre o aumento desde os anos 80 nos níveis de tributação até os dias de hoje (de 26% para 36%), “ou o Brasil está agora provendo bens públicos com qualidade e/ou quantidade duas vezes superior ao que fazia na década de 1980, ou houve queda de produtividade.

Frente ao exposto, passamos a compreender alguns pontos a serem ajustados no decorrer deste período e adiante no tempo. É errado desperdiçar tempo valioso com críticas a erros passados, mas sim, mais sábio é a busca da correção do que está incorreto e tangível. As reformas política e tributária não são as únicas arrestas a serem aparadas, podendo ser, contudo, um bom começo no caminho do desenvolvimento. Afinal, não é verdade que o brasileiro não desiste nunca?

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu acredito nos ciclos economicos, o capitalismo apresenta em diversos momentos da historia situações semelhantes a que vivemos hoje.

Mas mais que criticar os problemas de antes é tentar se ajustar para que nao haja as mesmas falhas.

O problema está na ignorância, tanto por parte de políticos, economistas e a população que já acha que tudo é normal.

Enquanto isso, o presidente é um dos homens mais poderosos do mundo.

João Melo disse...

Matheus, eu também critico a postura da EXAME logo na chamada de capa e sem necessidade. Fui buscar a minha EXAME de 31/12/2007 e muita coisa lá CONFERIU com o mundo real de hoje. Sabemos que economistas não são deuses, (mas moram no Olimpo rsrsrs), porém trabalham por um mundo melhor, cada qual à sua maneira, isso é verdade. Para você um feliz 2009Abraçao, João Melo, direto da selva.

Matheus Pacini disse...

Pessoal,
Ouçam à entrevista disponível no site do Estadão

http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowAudios.action?destaque.idGuidSelect=3962DC200108483EA08C105756356439

Grande abraço!