Gostaria de salientar que essa discussão de alto nível em relação à inflação está gerando repercussão positiva no ambiente "blogueiro".
Segue abaixo a réplica do amigo:
Por Ederson Vieira Grandi
Alguns manuais definem a inflação como um aumento contínuo e generalizado de preços. Lembro que meu orientador de monografia, professor Dr. Antony P. Mueller (que possui ligações à escola austríaca) me advertiu anteriormente quanto ao uso do termo “inflação”, que é alvo de debates teóricos, mesmo nos dias atuais.
Porém, existe um contraste importante da concepção das formas de moeda que existem. A moeda a qual é monopólio do Governo sua emissão é a moeda fiduciária. Por força da lei e por aceitação geral como meio de pagamento, ela é considerada como dinheiro. Existe outro tipo de moeda, que não está sob o total controle do Governo ou das autoridades monetárias (o próprio professor Mueller, em uma disciplina de Tópicos Avançados de Macroeconomia, abordou este fato como uma falha da teoria quantitativa): a moeda creditícia. Esta é gerada pelo sistema bancário, com finalidade de serem aproveitadas oportunidades de obtenção de lucro.
Em momentos de expansão econômica, e principalmente em meio à concorrência entre os bancos, estes criam fontes extras de rendimento (via inovações financeiras), de certa forma “burlando” qualquer controle governamental sobre agregados monetários, as quais são consideradas moeda. Esta consideração dos mesmos como tal se deve ao atual estágio de desenvolvimento do sistema bancário, que confere a estes ativos criados pelos bancos comerciais ou múltiplos com carteira comercial liquidez e garantias contra perdas. Este estágio de desenvolvimento do sistema bancário se caracteriza por possuir redepósitos no próprio sistema de créditos criados pelos bancos, câmaras de compensação, mercados atacadistas interbancários e, principalmente, um emprestador de última instância (o Banco Central).
O que importa é o seguinte: a criação de moeda, frente à demanda pela mesma, é dada pela autoridade monetária apenas (oferta monetária exógena), ou também é atendida pelo sistema bancário (oferta monetária endógena)? Um economista não deve estar preso cegamente a teorias que, além de não explicar adequadamente a realidade, ainda criticam a mesma por não se adequar aos seus pressupostos teóricos. A função da teoria econômica é espelhar a realidade; a “Economia é a penosa elaboração do óbvio”.
Deixarei de lado, por hora, toda a questão teórica e estatística, me detendo na descrição da realidade “óbvia”. Primeiro, uma autoridade monetária pode tentar controlar algum dos agregados monetários existentes (M1, M2, etc.) mesmo em detrimento de outros. Mas mesmo o FED, apesar de utilizar o como indicador de política monetária o conceito M2, ainda assim atua com base em uma taxa básica de juros. O usual meio de controle é a fixação de uma taxa de juros pela autoridade monetária. Para qualquer desvio causado pelo mercado financeiro a esta taxa, a autoridade monetária atuará com: emissão monetária (aumento da base monetária), variação na taxa de compulsórios e através de operações no mercado aberto, com títulos do BC ou os do Tesouro, que estejam em sua carteira. As duas últimas têm seu alcance apenas sobre as reservas bancárias compulsórias ou espontâneas junto ao Banco Central.
Se a autoridade monetária não atuasse quando de aumentos da demanda por moeda (que, aliás, não se dá apenas por motivo transacional, mas também precaucional ou especulativo, dada a existência de incerteza existente em relação ao futuro – outra falha da Teoria Quantitativa), dado o poder de fixação de preços, pelo sistema bancário, a taxa de juros cresceria, se afastando da meta. A taxa básica aumenta porque, os títulos os quais a negociação define a mesma, são também objetos desta maior demanda monetária, devido ao seu padrão de “quase-moeda”, principalmente no mercado atacadista interbancário.
A oferta monetária, em relacionando à taxa de juros num plano bidimensional, possuiria não uma forma vertical (inelástica), mas sim a forma horizontal em grande parte de sua extensão, caracterizando uma oferta acomodatícia em relação à demanda, finalizando-se com uma inclinação positiva, que denotaria o que ocorreria do não comprometimento da autoridade monetária com sua meta.
Os fatos caracterizam a oferta monetária como sendo endógena. A agregado monetário M4 tem correspondido, nos últimos cinco anos, a média 13 vezes a base monetária: a maior parte da moeda ofertada na economia não é controlada pelo Governo.
Quanto à demanda, abstraindo as demandas precaucionais e especulativas, a demanda transacional se daria com o aumento das transações ou preços. A teoria quantitativa argumenta que não havendo aumento da oferta monetária, haveria uma variação de preços relativos, sem nada acontecer no nível geral de preços. Porém, se o “Governo” aumentar a oferta, estará inibindo a necessidade de variações de preços relativos, causando aumentos gerais. A inflação do estoque monetário precederia o aumento do nível geral de preços.
A não existência de moeda creditícia corroboraria a tese de que o não aumento da oferta monetária inibiria preços, porém com seqüelas recessivas na economia. Porém, a oferta sendo acomodatícia, ou seja, endogenamente criada, ela atende a demanda. A demanda se dá por causa das transações e preços. Resultado: o aumento da oferta monetária não causa preços, mas se trata de uma corroboração aos seus aumentos, que se não feita pelo governo, será pelo sistema bancário indo até mesmo a um ponto de pressionar a alta nas taxas de juros e o crescimento da velocidade de circulação da moeda.
A explicação da inflação está em outro lugar. São as variações de preços e volume de transações que causam aumentos na oferta de moeda, ou seja, a “inflação da massa monetária”.
A explicação para as variações de preços exporá na próxima semana. Por hora, observarei apenas que estes não são dados por “simples interações” entre oferta e demanda em mercados, mas por “empresários seres humanos”, que são “formadores de preços” (price setters) e que suas decisões sofrem influencia da incerteza quanto ao futuro, das taxas de juros, acesso ao sistema financeiro e da sua capacidade de autofinanciamento.
Parece que a realidade é bem mais complicada que pensavam os teóricos da Teoria Quantitativa da Moeda
[1] Acadêmico do curso de graduação em Economia da Universidade de Caxias do Sul. E-mail: edersongrandi@bol.com.br
[2] A moeda é um meio de ligação entre o presente e o futuro: sua demanda é aumentada frente à períodos de grande incerteza, como forma de adiamento de gastos. Trata-se de uma demanda de moeda ociosa ou de ativos de grande liquidez. A teoria quantitativa tem esta demanda como irracional. Mas é irracional querer proteger sua riqueza contra eventos imprevistos?
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