O poderoso império espanhol reinou absoluto nos séculos XVI e XVII, controlando extensas rotas marítimas e ricas colônias ao redor do planeta (1) (i.e na América do Sul), sublevando quaisquer inimigos potenciais, até mesmo Portugal (2). Ao invés de se preocupar com o desenvolvimento de uma base industrial forte para lutar com as florescentes nações manufatureiras – Inglaterra, França e Alemanha – preferiu utilizar a grande quantidade de metais preciosos de suas colônias para importar produtos e fomentar os índices inflacionários. Paulatinamente, foi ocupar o lugar dos comuns no rol de países em importância econômica ao longo do século XIX. Em se tratando das grandes guerras, permaneceu com perfil acanhado (todavia, negociando com seus problemas internos), sob o comando irresoluto do ditador Francisco Franco até os idos de 1975, quando, pela sua morte, iniciou-se o processo transitório para a democracia.
AZNAR O TEU
Com a mudança de sistema, a Espanha passou a empreender mudanças institucionais de forma a atrair investimentos externos para recuperar o tempo perdido. Devido ao seu esforço, em 1986, uniu-se a UE, interagindo na tonitruante onda de modernização que se seguia a tal iniciativa. De 1986 até 1990, apresentou um crescimento considerável de 5%. Após período recessivo registrado no continente europeu no princípio da década de 90, a economia espanhola dá sinais de recuperação com a posse de José Maria Aznar em 1994 (3), o qual empreende políticas privatizantes de empresas anteriormente públicas como a Repsol, Telefonica, Iberia etc, com o que arrecada cerca de EUR 40 bilhões, ganhando acesso ao primeiro grupo a participar do lançamento da moeda comum européia - EURO, porque cumpre o que é exigido pelo acordo de Maastricht: ”equilíbrio orçamentário”, isto é, déficit inferior a 3% e dívida inferior a 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Como um representante egrégio do pensamento liberal, além de privatizações, empreendeu reformas liberalizantes no que tange aos negócios, desregulamentação, o que teve como conseqüência a redução dos índices de desemprego (de 22% para 8,1% da PEA). Há algumas arrestas a serem aparadas no momento em que se debate a postura diplomática de Aznar, a exemplo de seu suporte à administração Bush, seu descaso com Cuba e sua posição rígida em relação ao grupo separatista ETA (4). Após oito anos de mandato, o PP acaba perdendo as eleições (diante de fatos curiosos como atentados em Madrid) para os socialistas de José Luiz Rodriguez Zapatero.
“SOCIALISTAS” NO PODER
Quando chega ao poder, o Sr. Zapatero está na onda do pensamento positivo e otimismo, renegando as preocupações econômicas a segundo plano (as taxas de crescimento do PIB no período 2003-2006 foram de, aproximadamente, 3%), preferindo dar atenção à regulamentação do casamento gay e às questões regionais. Em 2008, sob a festividade da conquista da Eurocopa 2008 pela Espanha, também é celebrado o fim da bonança.
Um corolário de más notícias avizinha-se à porta de Zapatero, pois o principal responsável por uma das décadas de maior geração de riqueza – a construção civil – apresenta processo deflacionário, isto é, o valor das construções já prontas está caindo paulatinamente. Os empréstimos a esse setor representam 40% dos totais ao setor privado, segundo Luís de Guindos, chefe de operações do Lehman Brothers. O efeito dominó alcança os níveis de emprego, visto que as construções são responsáveis por cerca de 13% dos empregos da PEA. Consoante ao comentado na reportagem Bottom-Fishing in Spain da Revista Business Week , os grandes bancos de investimento ao redor do mundo (Goldman Sachs, Lehman Brothers) estão adentrando o mercado de forma feroz, visto que têm a oportunidade de adquirir propriedades (real estate) a preços realmente interessantes, aguardando a retomada do crescimento da economia para lucrar com a diferença. Diferente da crise do subprime, o que ocorre na Espanha não é originário de uma cultura de empréstimos sem garantias (como pode ser comprovado pela análise dos índices de default), mas porque os grandes empresários preferiram apostar em um dos únicos mercados com retorno, até o ano passado, certo.
A ECONOMIA DE SOLBES E DESCES (ATÉ O ZAPATERO DOS ESPANHÓIS)
A casa está caindo (seja seu valor, o mercado em si). Diga-se de passagem, que é uma das únicas coisas que está seguindo trajetória decadente. Por outro lado, o preço do petróleo, dos alimentos, o custo da energia elétrica (80% da energia utilizada na Espanha é importada) os índices de desemprego e as taxas de juros do BCE estão galgando postos antes impensáveis. O próprio ministro da economia, Pedro Solbes, afirma: “o crescimento para o segundo semestre será perto de 0%”, enquanto o Sr. Zapatero informa que o uso da palavra “crise” é uma mera escolha ortográfica e gramatical. Não para os espanhóis, que já pronunciaram claramente (63% dos entrevistados) sua desconfiança perante o posicionamento brando do governo no diário El País frente ao período contraditório em que vivem. As previsões de crescimento para 2008 e 2009, segundo o FMI, estarão localizadas em 1,9% e 0,8%, respectivamente. Quando a atividade econômica diminui, normalmente, as receitas tributárias mínguam o que prejudica o uso da política fiscal para fomentar a atividade econômica (destacando-se que o uso da política monetária e cambial não é opção). Neste ponto, surge a problemática de não reduzir os gastos sociais (apoio aos desempregados), concomitantemente à necessidade de respeitar o que foi acordado no Pacto de Estabilidade e Crescimento (5). É chegada a hora de o governo tomar as rédeas das reformas, empregando capitais na capacitação da mão-de-obra, melhorando a infra-estrutura, apoiando os centros de pesquisa públicos e os investimentos privados em R&D (Research and Development) de forma que a taxa de produtividade geral seja majorada.
Fontes:
(1) http://confrontos.no.sapo.pt/page2ImpOcidentaisA.html - neste endereço você encontra uma visão contrária ao comportamento espanhol nos tempos de colonização.
(2) http://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2007/11/papis-do-imprio-espanhol-pizarro-e.html - fala sobre a história espanhola, com adendos que vão de fotos das antigas colônias até discussões literárias.
(3) http://oinsurgente.blogspot.com/2006/01/entrevista-de-aznar-ao-expresso.html - entrevista com o Sr. Aznar, o qual fala de política, economia e sociedade.
(4) http://diplo.uol.com.br/2004-04,a895 - reportagem que cita alguns feitos do governo Aznar, além de que o crítica por algumas atitudes duvidosas.
(5) Segundo o Pacto de Estabilidade e Crescimento, a disciplina orçamentária é violada se o déficit do governo exceder um valor de referência de 3% do PIB ou se a dívida governamental ultrapassar 60% do PIB. Os países-membros da Zona do EURO concordaram em manter seus balanços “próximos ao equilíbrio ou em superávit” nos anos normais.
terça-feira, 29 de julho de 2008
Espanha - do mar à terra firme
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Um comentário:
Caramba bela pesquisa... Como estao as coisas meu rapaz? Abraços.
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