Complementando o texto publicado na semana passada, trago-vos a tradução livre do texto Building BRICS of growth, vinculado na revista The Economist de 7-13 de junho, disponível no site pelo link http://www.economist.com/finance/displaystory.cfm?story_id=11488749.
O maior boom de investimentos da história está em andamento. Mais da metade dos investimentos em infra-estrutura ao redor do mundo está tomando corpo nas economias emergentes, onde a venda de retroescavadeiras quintuplicou desde 2000. No total, elas (em estimativa) irão gastar U$ 1,2 trilhão em estradas, ferrovias, eletricidade, telecomunicações e outros projetos esse ano, equivalente a 6% dos seus PIBS combinados – duas vezes, em média, a taxa de investimento registrada nos países desenvolvidos – isto quer dizer que o investimento total fixo pode aumentar para surpreendentes 16% em termos reais nesse ano, de acordo com o HSBC, enquanto nas ricas economias será achatado. Esse tipo de inversão ajudará na manutenção do crescimento econômico dessas economias neste ano, porquanto a economia americana desacelera – e para muitos anos vindouros.
Compondo as previsões para esse ano, Morgan Stanley prediz que as economias emergentes irão gastar U$ 22 trilhões (em preços atuais) em infra-estrutura nos próximos 10 anos, dos quais 43% serão de responsabilidade da China. Ela já está investindo 12% do seu PIB em infra-estrutura, constatando-se que gastou (em termos reais), nos últimos cinco anos, soma semelhante ao montante invertido em todo o século XX. No ano passado, o Brasil lançou um plano quadrienal de gastos da ordem de U$ 300 bilhões com o intuito de modernizar suas ferrovias, usinas e portos. O governo indiano no seu plano qüinqüenal pincelou valores de U$ 500 bilhões em projetos de infra-estrutura. Rússia, países do Golfo Pérsico e outros exportadores de petróleo estão alocando parte de suas receitas petrolíferas em investimentos fixos.
Boa infra-estrutura tem sido o carro-chefe (junto à estabilidade macroeconômica) no que diz respeito à busca de desenvolvimento econômico, de estradas e aquedutos na Roma antiga até o boom das ferrovias na Inglaterra do século XIX. Mas nunca os gastos com infra-estrutura tiveram tal participação sobre o PIB como atualmente. Parte disso é explicado pelo fato de que existem mais países em processo de industrialização, mas também porque a China e outros países estão investindo a passos largos, jamais imaginados pelas nações ricas. Mesmo nos picos das inversões para a construção ferroviária na Inglaterra, os valores não passaram de 5% do PIB.
Investimentos em infra-estrutura podem trazer grandes ganhos econômicos. Construir estradas e ferrovias imediatamente aumenta a renda e o emprego, e ajuda a liberar as perspectivas de crescimento futuro – sendo o dinheiro gasto sabiamente, é claro. Transporte melhorado ajuda os fazendeiros (camponeses) a levar a sua produção às cidades, e aos produtores de manufaturas a exportar seus produtos além-mar. Países com custos de transporte baixos tendem a ser mais abertos para o comércio exterior e, por conta disso, alcançam crescimento rapidamente. Água limpa e saneamento básico aumentam a qualidade do capital humano, assim majorando os níveis de produtividade do trabalho. O Banco Mundial estima que a cada 1% de aumento no estoque de infra-estrutura de uma nação está associado a 1% no nível do PIB. Outros estudos concluem que o investimento maior do leste asiático em relação à América Latina explana a diferença na obtenção de crescimento dentre as duas regiões.
Em documento recentemente lançado pela Goldman Sachs, argumenta-se que o gasto em infra-estrutura não é somente causa de crescimento econômico, mas conseqüência dele. A partir do enriquecimento das pessoas, há tendência de aumento da população nas cidades, o que acarreta em maior demanda por eletricidade, transportes, saneamento básico e moradia. Essa relação mútua leva ao crescimento econômico e investimento. O banco (GS) desenvolveu um modelo que usa as expectativas de crescimento na renda, urbanização e população para prever futuras demandas no que tange à infra-estrutura.
A Urbanização detém os maiores impactos nas demandas por eletricidade. Goldman calcula que 1% a mais de pessoas residindo em cidades, eleva em 1.8% a demanda de energia como capacidade natural instalada (disponível para consumo). Sendo 1% de aumento na renda per capita, considera-se 0,5% de pressão sobre a demanda existente. Reunindo todas essas constatações, a capacidade de eletricidade deve majorar-se em 140% na China e em 80% na Índia até os meados da próxima década (2008-2018). Viagens aéreas – e porquanto os aeroportos – verão a mais rápida expansão da demanda, porque é o mais sensível à demanda: a cada 1% de majoração da renda per capita tem como conseqüência 1,4% de aumento sobre o numero de pessoas que utilizam esse meio de transporte. Segundo previsões, a variação positiva em número de passageiros utilizando o transporte aéreo será de 350% e 200%, respectivamente, na China e na Índia.
Como o aumento da renda per capita e das taxas de urbanização tomam passo mais concreto na China, ela ultrapassará a Índia em níveis de infra-estrutura. China pode adicionar treze vezes mais linhas-fixas de telefone, sete vezes mais passageiros para vôos e seis vezes mais capacidade de geração de energia elétrica em cotejamento com a Índia. Brasil e Rússia, mais urbanizados e ricos (implicando menor crescimento da renda), verão crescimento mais modesto em infra-estrutura.
Exaurido Boom
Como as economias emergentes Irã o financiar todo esse gasto? As finanças da maioria dos países emergentes estão em boas condições. Como um grupo (BRIC), eles estão perto de um balanço estável, embora alguns, como a Índia, exibem grandes déficits. Mesmo assim, a vasta escala de investimentos necessitará de dinheiro do setor privado. Para atraí-lo, as economias emergentes deverão oferecer um retorno descente, o que irá requerer reformas no sistema regulatório e a mudança para negociações a preço de mercado (justas por vias de concorrência). Na Índia, somente a metade da energia consumida é efetivamente paga, porque ela é roubada ou as contas não são pagas, simplesmente. Portanto, a quantidade massiva de investimentos em infra-estrutura pode encorajar o desenvolvimento do mercado de títulos de longo prazo, amortecendo um pouco a sangria inerente.
O boom global em infra-estrutura tem implicações globais. Investimento majorado significa maior importação de bens de capital (máquinas), o que operará na redução do superávit comercial chinês e em outros locais, reduzindo as desigualdades mundiais em termos de troca. Demanda crescente por materiais de construção vai manter os preços das commodities em alta.Por último, mas não menos importante, será o impacto negativo no meio ambiente. Com 75% de acréscimo na demanda por eletricidade por parte dos países emergentes na próxima década, piorará a condição do ar e do aquecimento global. Muitos temem que o projeto da represa Três Gargantas, o maior projeto hidroelétrico do mundo, poderá causar grandes danos ao meio ambiente. O grus japonensis é o pássaro símbolo da China e está em extinção. Algumas pessoas gostariam que as gruas das construções também seguissem um caminho mais lento.
OBS: existem outros textos na mesma edição da THE ECONOMIST e que trazem a influência de Índia e China nos índices de poluição global para o futuro. Se tiverem interesse, gentileza notar
http://www.economist.com/displaystory.cfm?story_id=11488548
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Building BRICS of growth - "Construido muros de crescimento"
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Um comentário:
O crescimento de obras voltadas à infra-estrutura é um requisito essencial para o desenvolvimento industrial. Isto a Índia e a China perceberam e o estão fazendo. Os gigantes Rússia e Brasil (onde o programa de aceleração do crescimento está andando em marcha lenta) estão mais acomodados neste quesito. Porem, china e Índia devem estar atentos aos gargalos que jé estão surgindo nas contas correntes e na agricultura, principalmente. Muitas pessoas estão saindo do campo, para trabalhar em indústrias nas cidades. Agora ganham uma renda maior, demandam produtos de maior valor agregado (o Brasil está vendendo calçados de luxo aos chineses) e mais alimentos. O campo, já com produtividade menor que a indústria, agora tem menor oferta de alimentos. Começa a demanda de alimentos e bens "superiores" via importação. O final da história é o déficit em conta corrente, que é um desestímulo à continuação dos investimentos. Até a maior de manda de alimentos pelos chineses e indianos já está sendo sentida pela crescente escassez de alimentos em âmbito mundial (são uma das causas).
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