domingo, 16 de dezembro de 2007

O fim da CPMF

Na madrugada de quinta-feira, advinda do Senado Federal, o povo brasileiro recebeu uma das melhores notícias do ano: o fim da CPMF. Com a sua inépcia política, o governo federal viu nada menos do que R$ 40 bilhões de reais serem retirados das previsões de receita para o próximo ano, comprometendo, em primeiro momento, o seu orçamento de forma “considerável” (nada para se alarmar, entretanto, pois a CPMF representa 6% do que é arrecadado pela máquina estatal).

A questão da CPMF surgiu como um fator memorável para que o Senado buscasse a absolvição pelos seus pecados, como, por exemplo, no caso Renan Calheiros – que acabou renunciando ao seu mandado – e que recebeu atenção particular no texto “Sex, Sleaze and Taxes” – em tradução livre, Sexo, Luxuria e Taxas – publicado na revista The Economist de 8 de dezembro, o qual expõe o senso de humor britânico no tocante ao escândalo político do ano. Sem o seu principal articulador, o governo viu ruir a possibilidade de vitória nesse embate “tributário”, pondo em risco a possibilidade de manutenção do PT para o próximo mandato quadrianual.

Do ponto de vista econômico, os técnicos do Ministério da Fazenda trabalham para que as prováveis medidas a serem impostas ao mercado (consumidores e industrialistas) não influenciem negativamente no crescimento do PIB, estimado para fechar 2007 em 5,5%. Entre elas, podemos citar:
  1. Cortes das emendas coletivas de parlamentares ao orçamento da União para 2008, cujo gasto previsto é de R$ 12 bilhões, até como uma forma de castigar os parlamentares pela sua atitude “irresponsável”, conforme palavras de Luís Inácio Lula da Silva.
  2. Aumento da alíquota dos impostos, a saber: IOF, PIS, CSLL e Cofins. Essa é a escolha histórica, adaptado desde os tempos de ditadura. O problema é que essa medida tem como conseqüência, normalmente, o aumento das taxas de juros (e, outrossim, do spread bancário).
  3. Suspensão da política industrial que previa desoneração tributária de R$ 6 bilhões para o setor (em especial, do imposto IPI, cuja redução beneficiaria a aquisição de máquinas e equipamentos para diversos setores - automotivo, têxtil, plástico, de bens de capital, naval, petroquímico e etc). Nesse aspecto, há a forte influência da CNI, cuja vontade era a implantação destas medidas no início de 2008.
  4. Abandono do projeto de desoneração da folha de pagamento em 1% (dos 20% atuais) que diz respeito à contribuição previdenciária das empresas, tendo um efeito negativo na arrecadação federal em média de 2,7 bilhões de reais.
  5. Redução do superávit primário (PPI = 0,5%). Segundo manifestação de Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, o governo caminha nessa direção. "O presidente não quer que mexa no superávit. É o 3,8%, mas posso tirar o 0,5% no ano que vem", afirmou ao Estado. "Este ano o superávit está maior do que a meta, mas no ano que vem vamos usar a folga do PPI." Os dados mais recentes das contas públicas mostram que, em 12 meses, o superávit primário do setor público está cerca de R$ 10 bilhões acima da meta de R$ 95,9 bilhões prevista para 2007. Considerada a meta mínima de 3,3% do PIB de superávit, a "gordura" neste ano estaria em torno de R$ 21 bilhões .
  6. Corte de R$ 24 bilhões de novos investimentos previstos para a saúde, afetando, diretamente, ao Rio Grande do Sul, o qual tem sob análise do ministério projetos da ordem de R$ 26 milhões.

Dentre as funções da CPMF, a única absolutamente proveitosa foi a de ferramenta contra a sonegação. Sem ela, a Receita Federal vai criar um instrumento de fiscalização para ter acesso à movimentação bancária dos contribuintes e substituir o papel ainda cumprido pelo imposto do cheque de farejar indícios de sonegação e evasão fiscal. Consoante informação do Fisco, nos últimos cinco anos, a CPMF foi responsável pela recuperação de recursos da ordem de R$ 41 bilhões, divididos em: R$ 15 bilhões – no caso de pessoas físicas. No caso das pessoas jurídicas, a CPMF foi decisiva para autuações de R$ 26 bilhões, 13% do total de créditos tributários lançados contra empresas.

Indubitavelmente, o produto da retirada dessa fonte de receitas prejudicará os cofres do governo, o qual não planeja reformulação na sua estrutura de despesas correntes (isto é, usadas para a manutenção da máquina) e muito menos, a tão necessária reforma tributária. Continuaremos sendo fortemente taxados no consumo (IPI e no âmbito estadual, ICMS) de forma que o governo federal possa continuar com suas políticas sociais de fundo eleitoral.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

primeiro quero dar os parabens, escreve muito bem um dia eu chego la, rs

quanto ao tema, me revolto apenas devidos as discussoes sobre a prorrogação ou nao da CPMF ficarem apenas no ambito politico. As opinioes pros e contras nao se preocupavam com o impacto do imposto na economia, mas era apenas uma guerra entre governo e oposição...

os que foram contra eram os mesmo que criaram o imposto do cheque, vai entender.