Desde 2005 percebe-se que as mudanças ocorridas no mundo em relação à demanda de commodities (minerais e agrícolas), principalmente por China e Índia, abalam os resultados de países exportadores desse material primaz para a geração de riqueza, seja em manufatura (itens de consumo duráveis ou não duráveis, bens de capital) ou em outro qualquer ramo da atividade econômica (especialmente naquelas que demandam derivados de petróleo ou álcool para movimentar suas engrenagens).
Antes de ir mais a fundo nos assuntos externos, porém, vamos conceituar, grosso modo, de que é formado o balanço de pagamentos, isto é, as suas duas contas gerais a serem consideradas para motivos didáticos:
· Transações correntes: contabiliza-se o resultado líquido da movimentação de mercadorias; de serviços (transportes, viagens, fretes, etc); de rendas (salários, serviço da dívida externa – pública ou privada – remessa de lucros para o exterior ou o recebimento de dividendos de investimentos feitos no exterior por empresas brasileiras); e transferências unilaterais (transferências realizadas em ambos sentidos, sem contraprestação). Em resumo, informa-nos a movimentação de bens e serviços relativos ao pagamento dos fatores de produção (capital e trabalho) entre residentes e não-residentes. Para mais detalhes, solicite material exclusivo via e-mail (matbonetto@terra.com.br)
· Conta financeira: composta pelos investimentos feitos por não residentes no Brasil ou por residentes no exterior. Podem tomar forma de IED (investimento externo direto), somando-se empréstimos inter-companhias; investimentos em carteira (valores mobiliários em mercados secundários); derivativos (saldo líquido das operações de swap, mercado de opções e futuros); e outros investimentos (empréstimos no FMI e Banco Mundial).
Os saldos das transações correntes somado com a conta financeira são iguais à acumulação de reservas pelas entidades financeiras (no nosso caso, o BC, visto que o regime de câmbio flutuante não é puro).
Os dados que podem ser consultados no site do governo federal (http://www.desenvolvimento.gov.br) mostram que os principais aspectos na transformação da conta financeira para o seu perfil positivo atual são: aumento de investimento por parte de instituições internacionais em renda fixa – visto que os aspectos macroeconômicos, a saber: estabilidade de preços, regime cambial flexível e pujança fiscal estão estáveis; e a possibilidade de alcançar o investment grade. Ela não é a peça fundamental da conjuntura atual, mas sim as transações correntes...
A valorização do real não é bem recebida pelos exportadores brasileiros, porquanto as mercadorias brasileiras tornam-se “caras” e diversos setores sofrem com insolvência crítica (têxteis, calçados, brinquedos e móveis). A pregação que a solução para esse problema encontra-se na redução das taxas de importação, entretanto, não encontra suporte histórico, e os produtos que seriam mais importados seriam dos segmentos combalidos informados anteriormente (apesar do governo implantar medidas para ajudar na sustentação dos mesmos). Outro efeito da saída de dólares do país via importações é a “desindustrialização” da economia brasileira, pois as empresas preferem aumentar a aquisição de insumos estrangeiros em detrimento dos produzidos nacionalmente, reduzindo o emprego e a renda interna.
Segundo estudo do IEDI, encomendado pela FIESP, a participação do setor secundário no PIB caiu de 44% na década de 1980 para 22% na década atual. Ademais, verifica-se no próprio balanço externo que os déficits dos setores de alta tecnologia (e que deveriam ser os primordiais) crescem a passos largos, alcançando, no último semestre US$ 6,85 bilhões e que o saldo das manufaturas segue a mesma tendência deficitária. Como destaco desde fevereiro, o movimento de entrada de recursos externos não são direcionados ao setor industrial, mas sim ao setor primário (a saber, a coqueluche do etanol) ou à especulação financeira desvairada (com a contribuição nociva da desregulamentação governamental que já demonstrou o que pode acarretar nos EUA, na década de 1990). A solução, indeferivelmente, se encontra nas reformas internas e não em crendice e medidas intervencionistas de séculos passados, isto é, temos de conviver com o real forte, sendo proposta a contrapartida de redução dos custos trabalhistas, previdenciários e tributários por parte da superestrutura estatal, então, finalmente, redefinindo o Brasil como competitivo, no sentido completo da palavra, em âmbito internacional.
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7 comentários:
É interessante (e diria triste) perceber o quanto a idéia de imediatismo é histórica e ainda presente no nosso querido Brasil. Uma moeda forte e valorizada normalmente demonstra um país competitivo e desenvolvido. Porém, a valorização do real contraria o interesse de certo setores exportadores, que dificilmente planejam a longo prazo, estudando novos produtos, com maior valor agregado, ou novos nichos de mercado nacional ou internacional. O governo parece ter a mesma atitude, pois não possui nenhum planejamento ou estratégia a longo prazo (ao menos divulgada) para a redução das taxas de importação, possibilitando a competitividade e o desenvolvimento da industria nacional e do setor de serviços. A abertura econômica no inicio da década de 90 possibilitou grandes avanços para nosso país, apesar de algumas perdas. Uma atitude positiva, de estudo e planejamento, visando uma maior abertura do mercado atual, é, na minha opinião, um dos fatores necessários para o desenvolvimento do Brasil, que participa atualmente de apenas 1% do mercado mundial, apesar de sua população ser de quase 3% da mundial. Para finalizar, o texto do amigo Pacini está muito bom, possibilitando algumas reflexões sobre a questão do câmbio, bastante discutida, e um entendimento sobre a visão tida pelo setor privado e pelo governo relativas às atividades e políticas de exportação e importação. Espero ter contribuído com este comentário e desejo um ótimo desenvolvimento, não só para o Brasil, mas para este blog, com cada dia mais leitores.
Finalmente consegui postar no teu blog..
Realmente interessante teu texto, anexa em si vários aspectos que grande parte do pessoal não se toca: que o Brasil está crescendo, e não podemos mais tratá-lo como um país de economia vulnerável. Temos que começar a ser mais competitivos, não importando o ramo.
Ah, e a aula de Contabilidade Social eu já tive, bem interessante o que o Sr. Fedrizzi e seu fusca ensinam.. hehe
Abraço!
Bom dia Pedro / Rafael,
É gratificante perceber que a semente de reflexão sobre os assuntos econômicos está germinando. Aos poucos, com a presença maciça e participativa, teremos aqui um blog que realmente estruturará uma fonte de informação de qualidade.
Gostaria de fazer uma crítica ao seguinte trecho:
"Outro efeito da saída de dólares do país via importações é a 'desindustrialização' da economia brasileira, pois as empresas preferem aumentar a aquisição de insumos estrangeiros em detrimento dos produzidos nacionalmente, reduzindo o emprego e a renda interna".
Isso é o acontece no primeiro momento, mas temos que atentar ao que acontece depois. A preferência pelos produtos estrangeiros se dá em ocorrência de um melhor custo/benefício. Assim sendo, houve uma economia ao fazer essa compra. E o que acontece com essa economia? É gasta em outros setores, aquecendo-os.
No final das contas, houve economia, maior eficiência, pessoas consumindo mais e o país mais apto a crescer, com produtos mais baratos e melhores.
Boa tarde Leonardo,
Primeiramente, é um prazer recebê-lo aqui no blog.
Sobre o seu comentário, tenho a dizer o seguinte: é realmente complicado você ver uma nação forte que se paute pela exportação de commodities e importação de produtos acabados (cite-me algum exemplo claro).
Veja bem o custo de, por exemplo, um computador de ponta. Mesmo com as isenções fiscais é um crime. Isso se deve à falta de interesse por parte do empresariado de desenvolver algo de competitivo dentro de seu país. Faltam incentivos e capacidade empreendedora...
Obrigado e apareça sempre
Obrigado pelas boas-vindas. Já adicionei seu blog aos favoritos.
Bem, você pediu um exemplo: o que veio à cabeça agora é o Chile, dependente da exportação de cobre e que é considerado o país mais avançado da AL. Mas não me lembro de mais nenhum atualmente.
Acho um erro essa visão de que exportar commodities é ruim. Simplesmente é o melhor que podemos fazer. Forçar uma competitividade em algo que não somos bons, acho que acabaria não surtindo efeito. Não é diversificar para crescer, é crescer para diversificar. Qual a melhor solução para começarmos a exportar outras coisas senão commodities? Ter um bom ambiente de negócios para que crescem as indústrias e as commodities sejam transformados aqui mesmo.
Eu não diria que é falta de interesse -- é difícil imaginar empresários que não queiram ganhar cada vez mais; acho que falta incentivos, como você bem disse. Mas de quais estamos falando? Bem, no Brasil gasta-se, em média, 152 para se abrir uma empresa, e não há isenções de impostos para os novos empresários. Isso desanima qualquer empreendimento.
Acho que falta ambiente de negócios. Menos burocracia e menos impostos, principalmente para novos negócios.
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