quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tradução - Revista The Economist

Sendo que a jornada de recuperação econômica não exibe panorama de curto prazo, muito é discutido sobre as definições de recessão e depressão. A partir deste texto, pode-se ter alguma noção básica. O original, em inglês, verifica-se em http://www.economist.com/finance/displaystory.cfm?story_id=12852043.

O blog está aberto a traduções sugeridas pelos leitores. Texto sobre agências reguladoras em breve.

Foco Econômico – Diagnosticando a depressão

Qual e a diferença entre a recessão e a depressão?

A palavra – depressão – está sendo pronunciada mais frequentemente do que em qualquer momento nos últimos 60 anos, mas o que exatamente ela significa? A regra popular para uma recessão é dois consecutivos quadrimestres de PIB decrescente. O Bureau Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA tem oficialmente declarado a recessão baseado em uma mais rigorosa análise de vários indicadores econômicos. Entretanto, não existe definição universalmente aceita de depressão. Então quão severa a atual queda deve ser para que seja agraciada com a definição D?

Uma pesquisa na Internet sugere dois critérios principais para distinguir uma depressão de uma recessão: um declínio no PIB real que exceda 10%, ou um que dure mais do que três anos. A Grande Depressão qualifica-se nas duas noções, com PIB caindo em torno de 30% entre 1929 e 1933. A produção também decresceu em 13% durante 1937 e 1938. A Grande Depressão foi a mais profunda queda na atividade econômica (excluindo-se às relacionadas com guerras), mas com 43 meses não é a mais longa: a dúbia honra é concedida para uma de 1873-79, a qual se alastrou por 65 meses.

A (década perdida) do Japão nos anos 1990 não foi uma depressão, de acordo com estes critérios, porque a maior queda no PIB real foi somente de 3.4%, ao longo de dois anos até março de 1999. Desde a II Guerra Mundial, só uma economia desenvolvida sofreu uma queda no PIB de mais de 10%: a economia finlandesa contraiu-se em 11% durante 1990-1993, principalmente devido ao colapso da URSS, na época o seu principal parceiro comercial.

As economias emergentes, por sua vez, têm sido muito mais receptoras às depressões. Dentre as 25 economias emergentes cobertas semanalmente nas páginas finais da The Economist, aconteceram não menos do que 13 exemplos nos últimos 30 anos de queda no PIB real maior do que 10%. Argentina e Polônia foram afligidas duas vezes. Indonésia, Malásia e Tailândia sofreram retrações de dois dígitos no produto durante a Crise Asiática de 1997-98, e o PIB da Rússia encolheu drasticamente 45% entre 1990 e 1998.

A tabela à esquerda mostra o ranking de quedas (contrações do PIB) nas desenvolvidas e subdesenvolvidas ao longo do século passado da The Economist. Ela exclui àquelas durante tempos de guerra (Alemanha e Japão, por exemplo, viram o seu produto cair em 50% ou mais após 1944). As depressões alemã e francesa nos anos 1930 constam nas 12 maiores, mas não a inglesa, onde o PIB cai para uma taxa relativamente modesta de 6%.

Antes dos anos 1930 todas as quedas de atividade econômica eram chamadas de depressões. O termo (recessão) foi cunhado posteriormente para evitar a lembrança de um passado nebuloso. Mesmo antes da Grande Depressão, quedas eram tipicamente mais profundas e longas do que elas são atualmente. Uma razão pela qual as recessões tem se tornado mais brandas é os aumentos dos gastos governamentais. Na recessão os governos, diferentemente das firmas, não cortam gastos e empregos, ajudando a estabilizar a economia; o imposto de renda automaticamente cai e os benefícios aos desempregados crescem, ajudando a suportar a renda. Outra razão é que no final do século XIX e no início do século XX, quando os países utilizavam o padrão-ouro, a oferta de moeda s sempre encolhia durante recessões, exacerbando a crise. Ondas de quebras bancárias sempre tornaram a situação pior.

Contudo uma recente análise por Saul Eslake, economista-chefe no banco ANZ, conclui que a diferença entre uma recessão e uma depressão é maior do que uma questão de tamanho ou duração. A causa da queda também importa. Uma recessão comumente falando sempre segue um período de aperto na política monetária, mas uma depressão é o resultado do estouro de uma bolha acionária e creditícia, uma contração no crédito e um declínio no nível geral de preços (deflação). Na Grande Depressão, a média geral de preços caiu em 1/4 e o PIB nominal acabou por se contrair quase pela metade. As piores recessões nos EUA antes da II Guerra Mundial foram todas associadas com pânicos do setor financeiro e queda geral de preços: nas registradas em 1893-94 e 1907-08, o PIB real declinou em quase 10%; em 1919-21, ele caiu em 13%.

Os problemas econômicos que se sucederam ao colapso da URSS e aqueles durante a crise asiática não eram realmente depressões, argumenta Mr. Eslake, pois a inflação cresceu rigidamente. Por outro lado, a experiência do Japão na década de 1990, quando o PIB real sofreu sucessivas quedas ao longo dos anos, pode se qualificar. Uma depressão, sugere Mr Eslake, não necessita ser “Grande” como foi a de 1930. Na sua definição, depressões, como recessões, podem ser brandas ou severas.

Outra importante implicação dessa distinção entre a recessão e a depressão é que elas clamam por diferentes respostas de política. Uma recessão causada por um aperto de política monetária pode ser curado por baixas taxas de juros, mas a política fiscal tende a ser menos efetiva por causa dos atrasos envolvidos. Como contraste, em uma depressão causada pela queda do preço das ações, um rombo no crédito e deflação, a política monetária convencional é muito menos potente do que a política fiscal.

Onde isto nos deixa hoje? O PIB norte-americano pode ter caído em base anual 6% no quarto trimestre de 2008, mas a maioria dos economistas nega a semelhança com uma depressão “estilo-1930” ou uma repetição do Japão dos anos 1990, pois os policymakers não tendem a cometer os mesmos erros do passado. Na Grande Depressão, o FED permitiu a falência de vários bancos e a oferta de moeda encolheu em 1/3, enquanto o governo tentou equilibrar seu orçamento através de cortes nos gastos e aumento de impostos. O afrouxamento monetário e fiscal optado desta vez é mais agressivo do que o registrado pelo Japão nos anos 1990.

Entretanto, estas recomendações adviram de muitos dos mesmos economistas que disseram que uma queda nacionalizada nos preços dos imóveis era impossível e que a inovação financeira tinha deixado o sistema financeiro mais resiliente (confiável). Esperançosamente, eles irão estar certos esta vez. Mas essa crise foi causada pela maior bolha acionária e creditícia da história – maior do que a japonesa no final dos anos 1980 ou da norte-americana no final da década de 1920. Policymakers não cometeram os mesmos erros do passado (1930), porém podem ser vítimas de novo enganos.

Em 1978 Alfred Kahn, um dos conselheiros econômicos de Jimmy Carter, foi censurado pelo presidente pois assustava as pessoas sobre as perspectivas de uma depressão. O Sr Kahn, no seu próximo depoimento, simplesmente trocou a palavra ofensiva, dizendo “Nós corremos o risco de ter a pior banana dos últimos 45 anos”. “A economia norte-americana tem novamente distinta forma de bananas”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que em um determindado ponto ele menciona a profilaxia dado o diagnostico. Acho, ainda, que todos estao carecas de saber a cura, mas não sabemos a causa e todos os sintomas.

Legal a tradução, bom trabalho ;)