sábado, 23 de agosto de 2008

Distribuicao de riqueza e crescimento economico

Por Ederson Vieira Grandi

O nível de investimentos causados pela taxa de lucros (proxy da eficiência marginal do capital, que consiste na simples razão dos lucros sobre o estoque de capital), configurando um efeito rentabilidade; e pela taxa de utilização da capacidade instalada, um efeito acelerador. A renda agregada pode ser dividida em salários e lucros (desconsiderando-se a parte de impostos líquidos de subsídios – renda do Governo).
Um país pode ter seu crescimento puxado pelos salários (wage-led) ou pelos lucros (profit led). Estes dois termos se originam da seguinte análise: se distribuições de renda em favor dos salários, ou seja, aumentos da participação dos salários na renda, aumentarem a taxa de utilização da capacidade instalada, tem-se que esta economia é wage-led; caso contrário, é profit-led. A taxa de utilização é um indicador do crescimento da produção, e conseqüentemente, do crescimento econômico.
Não interessa aqui uma explanação teórica da teoria. Mas algumas características interessantes puderam ser captadas no trabalho de Rafael Rocha Gouvêa e Gilberto Líbano (http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/td/TD%20322.pdf). Primeiro, economias desenvolvidas geralmente possuem maiores parcelas de salários e conseqüentemente, maior estabilidade de crescimento. Isto porque os trabalhadores, por gastarem a quase totalidade de sua renda, possuem alta propensão a consumir. O consumo é a parcela mais estável da demanda agregada (ou PIB). Para o Reino Unido, calcularam que a utilização da capacidade instalada varia em um intervalo de 0,1, com desvio-padrão de 0,03, enquanto na enquanto a Turquia varia entre 0,16 e 1,4, com desvio-padrão de 0,19.
Segundo, os autores calcularam a relação destas variáveis nos dois países citados acima, e constataram que o Reino Unido, bem como os demais países desenvolvidos, possui o crescimento puxado pelos lucros (profit-led), enquanto a Turquia, e demais países em desenvolvimento, o regime puxado pelos salários (wage-led). Os efeitos da variação da parcela de salários na renda sobre a utilização da capacidade instalada calculados para o Reino Unido é de -5,1, enquanto que para a Turquia, é de 9,1. A terceira, é que países profit-led tendem a apresentar menores taxas de crescimento que países wage-led.
A questão é o efeito desta distribuição da renda entre salários e lucros: maiores parcelas salários representam menores taxas de lucros, o que pode atuar negativamente sobre os investimentos. Já no caso da economia ser wage-led, a queda na taxa de lucros é compensada pelo crescimento da taxa de utilização da capacidade instalada, fazendo crescerem os investimento e a renda.
Com todas estas hipóteses testadas em diversos países, se pode concluir que o Brasil também se enquadra no regime wage-led: políticas pó-salários tendem a gerar o crescimento da economia, via consumo.

Um comentário:

Mario Henrique da Rocha disse...

Eu estava estudando isto em macro semana passada. É realmente um texto muito interessante. Abraços!