Após o dia 13 e 14 de abril de 2008, data da realização das eleições gerais na Itália, contempla-se um fato histórico: a volta de Silvio Berlusconi, terceiro homem mais rico da Itália e magnata da área das comunicações e esportes, ao posto de primeiro-ministro da Itália, após duas outras administrações frustradas em 1994 e 2001. Dessa vez, ele obteve maioria nas duas casas legislativas, o que lhe propicia caminho mais fácil para as reformas necessárias à reviravolta do panorama sorumbático no qual se encontra a economia italiana.
Entre os planos anunciados, consta a solução do problema do lixo em Nápoles (o qual está sendo tratado em primeiro lugar, conforme informação do Estadão (1); a reestruturação financeira da empresa de aviação estatal Alitalia, que exibe déficits galopantes e contribui para a grave situação fiscal do Estado. Ao contrário de Romano Prodi, responsável por algum respiro orçamentário impopular patrocinado por aumento de impostos e taxas (redução do déficit para 3% do PIB contra 4,8% dos idos de 1996), Berlusconi pretende abolir taxas de propriedade, destinar bônus para casais que tenham filhos e, ainda, aumentar a participação de valores de pensões.
Parece que a Itália não tem nenhum compromisso com os limites de déficit fiscal indicados pela União Européia e expansão da base monetária (contra o BCE), visto que não liga para a inflação aterrorizadora dos bolsos da população – índice de 5,5%, incidindo sobre alimentos e combustíveis - anunciando mais gastos com infra-estrutura. “A culpa é da crise financeira”(2), diz Giulio Tremonti, novo ministro da economia, o qual pretende vender propriedades governamentais para alavancar os projetos. Contudo, segundo estudo publicado por Stefania Fabrizio “Should Italy Sell Its Nonfinancial Assets to Reduce the Debt?” (3) essa solução é de curtíssimo prazo e foi adotada, especialmente, quando surgiu a necessidade do governo italiano comprimir seu déficit para adentrar na União Européia, em conluio com privatizações e redução das taxas de juros. O paradoxo que se verifica é que, de um lado se prega a venda de ativos estatais para reduzir a dívida pública e, de outro, mantêm-se a idéia das campeãs nacionais (Alitalia) e o poder público propõe-se a financiá-la – já que ninguém do setor privado quer segurar essa bomba à beira da explosão.
Há uma postura contra a globalização por parte do novo executivo, prejudicial à entrada de recursos advindos de FDI para investimento, pela balbúrdia estatal, com exemplo de dois aspectos como esquema de pagamento de impostos e segurança de contratos, com classificação, respectivamente de 122° e 155° (comparativo com outras 178 economias por análise do documento Doing Business 2008, publicado pelo Banco Mundial (4), corroborando na assertiva de que o ambiente legislativo e judiciário prejudicam a eficiência do setor público italiano, tenha vista as próprias denúncias contra o premier Berlusconi que modificou diversos artigos do direito penal para se ausentar de condenações por corrupção e outras improbidades administrativas. Outro ponto sensível é o da reforma do sistema de pensões, porque, com o envelhecimento paulatino da população, não existe caixa suficiente para bancar as novas despesas já no médio prazo.
O crescimento do PIB para os próximos dois anos, segundo o FMI, é da ordem de 0,3%, um dos menores entre as economias que fazem parte da OECD e G8. A educação e o sistema de saúde estão se deteriorando, pela conseqüência de diversas hierarquias de poder (máfia, governo, setor privado, sindicatos, mídia), sendo espelho a pilha de ineficiência que se encontra nas ruas de Nápoles. Embora a conjuntura atual não esteja com perfil brilhante, ainda podemos contar com a eficiência do setor exportador italiano, conforme comprovado no documento escrito por Bogdam Lissovolik “Trends in Italy Nonprice Competitiveness”(5), o qual reitera a postura pró-eficiência das empresas italianas destinadas à exportação, optando por melhorias tecnológicas e processos de outsourcing, no intuito de redução de custos. Além disso, há desenvolvimento paulatino de novos mercados. Como diria um provérbio italiano: Fingire un dolore per accattivarsi la fiducia e poi imbrogliare (Reza ao morto para enganar ao vivo). Não será esse o método de Berlusconi: orar pela economia defunta de seu país para enganar à população? O tempo dirá.
Fontes Utilizadas
(1) Veja notícia em http://www.estadao.com.br/geral/not_ger177516,0.htm
(2) Como nos informa reportagem da revista The Economist - Mamma Mia - os bancos italianos estão em ótimo estado e obtém maior fatia do mercado europeu de crédito com o passar dos anos. Tremonti deveria argumentar melhor. Download em: http://www.economist.com/displayStory.cfm?story_id=11050099
(3) Verificar original para download http://www.imf.org/external/pubs/ft/pdp/2008/pdp01.pdf
(4) Download do Coutry Report - http://www.doingbusiness.org/Documents/CountryProfiles/ITA.pdf
(5) Verificar original para download http://www.imf.org/external/pubs/cat/longres.cfm?sk=21929.0
3 comentários:
Berlusconi é um picareta, mas comparar ele a Mussolini é um exagero.
Guilherme, boa tarde.
Analisando as opiniões dos dois (contra a imigração, tendência ao gasto público sem diretivas de eficiência, apoio a máfia), vimos que não passa de um sr. que herdou características fascistas derrotistas , mas que é pintado de gentleman pela mídia (90% da audiência está vinculada à sua propriedade particular). Nada impede que ele possa mudar esse perfil nesse mandato, entretanto, duvido muito...
Gostei do texto Matheus!!!
Muito bom!
Abraço
Lucas
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