Mesmo com um cenário de crise na economia americana, que gera a conseqüente desvalorização do dólar (mais importações), o Brasil mostrou que a influência negativa nas trocas internacionais não foi suficiente para derrubar as expectativas de crescimento bruto, alcançando em 2007, segundo dados divulgados pelo IBGE, a marca de 5,4% em comparação ao ano anterior. Para Guido Mantega, ministro da fazenda, em entrevista à Agência Brasil, “estamos vivendo o novo milagre econômico”, comparando ao que se viu em 1970. Até a renda per capita (PIB / População) aumentou em 4%, chegando a R$ 13 515. O principal ator desse boom foi o consumo interno. Vejamos.
O surto de crédito iniciou-se em 2000 (R$ 336 bilhões) e chegou, ao final de 2007, ao nível de 1 trilhão de reais, pressionando a capacidade produtiva da indústria, da agricultura e dos serviços. Como a abertura de negócios no Brasil é complicada (152 dias e mais de 18 procedimentos), isso corroborado em âmbito internacional por pesquisa da International Finance Corporation (IFC), a qual, balizada em proposição feita a diversos empreendedores brasileiros (o processo era assim: era dada uma oferta hipotética de apostas com variação de risco e retorno ou se gostariam do dinheiro no momento, isto é, sem risco), trazida em integridade e ironia por reportagem da revista The Economist, que concluí: “talvez a falta de vontade de acumular poder ocorra porque há coisas muito mais prazerosas para fazer no Brasil do que trabalhar”. Afora a maldade, não se pode obscurecer a realidade que atormenta os nossos empresários, comprometendo a real sustentação do crescimento, visto que o consumo interno variou em 6,9% ponto percentual, enquanto a indústria somente 4,9%, causando o aumento da inflação. Isso é confirmado, de forma sucinta e didática, por Lula: “Precisamos de gente comprando para as empresas crescerem. E precisamos ter empresas produzindo porque se não produzirem gera inflação, com a demanda maior do que a oferta. Então, nós estamos tendo esses cuidados excepcionais para não permitir que este momento mágico se transforme em sofrimento amanhã”. Viu, nem precisa ser economista...
Enquanto isso, e para te ter uma visão holística dos fatos, li o relatório da The McKinsey Quarterly: Shaping a new agenda for Latin America, o qual aborda as potencialidades das economias latino-americanas em diversos aspectos. Irei focar o que foi falado sobre o Brasil.
No primeiro texto, “Assessing Brazil´s offshoring prospects”, há uma reflexão sobre as possibilidades do Brasil a ser uma nova potência do setor de serviços. Entre as características, citamos: mão-de-obra em quantidade e barata (mas que na sua maioria não sabe inglês, o que impede o emprego em multinacionais); mercado amplo de IT ( surgido nas décadas de 70 e 80, quando os bancos tinham de criar mecanismos para transacionar a moeda rapidamente, de forma a não serem tragados pela inflação) em comparação à Índia; legislação trabalhista defasada; pouca formação acadêmica (cerca de 7% da população, sendo que os profissionais que passam pela triagem são engenheiros e economistas) ¹. Em se verificando as comparações com outras nações, no geral, o Brasil está em posição mediana, o que não é suficiente (ou se é bom ou não se é).
Nos textos “How big retailers can serve Brazil´s mass-market shoppers” e “Financing Latin America´s low-income consumers”, o enfoque passa a ser o estudo do consumo da população, suas preferências, suas bases de crédito e etc. Em especial, a discussão é direcionada a soluções potenciais para absorver a massa consumidora mais pobre (descartada pelo atual sistema bancário, que é favorável ao elitismo) e que acaba recorrendo a meios ilegais de crédito (como os agiotas) no intuito de alavancar suas aquisições – que podem ser uma geladeira, televisão ou um rádio. O segredo, segundo o estudo, é a reunião dos interesses dos varejistas e bancos, de modo que se expandam não somente o crédito para o consumo, mas a inclusão de todos os segmentos da sociedade em atividades que beneficiem a economia como um todo (o setor formal), visto que a consciência é adquirida através do conhecimento da função e custo do dinheiro. O gasto por si só não é suficiente, tem de ser acompanhado de qualidade.
As previsões para o crescimento do presente ano 2008 já estão sendo feitas por diversas instituições, entretanto, deve ser ressaltado que, como ano de eleição (mesmo com a Lei de Responsabilidade Fiscal), os gastos correntes irão aumentar. Espera-se que as reformas trabalhista e fiscal sejam empreendidas o mais breve possível e que o futuro do Brasil não seja engulfado por abreviações como PAC, LDO ou algo do gênero, mas sim que se busque o retorno dos grandes PND’s, conforme opinião de Márcio Pochmann ao Estadao.com: “Precisamos ter um Plano Nacional de Crescimento, que é além do crescimento". Tudo bem que é melhor eu não elogiar muito o Sr. Marcio, visto que ele propõe a criação de novos tributos para taxar a produção imaterial (conhecimento), o que abarcaria, inclusive, esse blog...
quarta-feira, 19 de março de 2008
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Um comentário:
Eu nao procurei nenhuma informação sobre esse programa do governo, por isso, nao posso fazer uma critica mais profunda. Mas o fato é que o projeto é de conseuqencias de longo prazo, mas com a demora das execuções das obras, sei la quando poderei ver tais mudanças.
Coisa de politicagem, quem me de dera uma economia sem governo.
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